1. Conhecer e amar o Natal Minha Mãe contava-me histórias da Bíblia. Disse-me que um dia Abraão caminhou rumo à terra prometida, que Moisés procurou o seu povo para o libertar e que Jesus nasceu em Belém para salvar a humanidade. Tudo isto, Deus fez por nós. Minha Mãe ensinou-me a conhecer e a amar o Natal. No mundo de hoje, em que faltam tantas vezes a serenidade das noites longas e a paz dos dias felizes, o Natal precisa de ser melhor conhecido e mais amado. O Natal existe por nossa causa. Pensamos frequentemente que a terra dos homens é um mar de problemas e perguntamo-nos como é possível, vinte séculos depois, estarmos tão longe do Natal, distanciados da beleza da sua mensagem e insensíveis à ternura de Deus que quis habitar no meio de nós. Maria e José não encontraram lugar na cidade dos homens e recolheram-se numa gruta da colina de Belém. Aí nasceu Jesus, o Filho de Deus. Jesus modelou em traços divinos a gruta onde nasceu e dela fez o primeiro presépio de Natal.
2. Olhar o mundo à luz do Natal O Natal é um dom de Deus à Humanidade. Se olharmos para o Natal apenas como oportunidade para distribuir bens materiais a quem precisa, corremos o risco de dormirmos tranquilos sobre o bem já realizado, esquecidos do vazio deixado nas bocas famintas dos que não têm pão nem trabalho no dia seguinte. Quando, por outro lado, vemos o Natal prisioneiro do consumismo que esconde tantos dramas humanos, tememos ser vencidos pelo desânimo próprio dos que se sentem incapazes de dar resposta a tantas carências e impossibilitados de levar o Natal a todos os corações. O Natal desperta-nos para acolhermos com alegria o amor de Deus pela humanidade manifestado no mistério do nascimento do Filho de Deus que veio morar no meio de nós. O Natal ensina-nos a sonhar com um mundo novo e diferente, habitado por homens e mulheres que se sabem irmãos e querem transformar as dificuldades em oportunidades.
3. A oração está na raiz da esperança e da caridade Todos quantos celebram o Natal de Jesus sabem que a esperança de que o mundo carece mora no presépio e está presente no coração generoso dos que acreditam, rezam e partilham. Para os cristãos, a oração está na raiz da caridade e no lugar onde se fortalece a esperança. É lema diocesano da nossa caminhada Advento/Natal a bela síntese: Jesus vem: reza e acolhe. A Igreja conhece as dificuldades das pessoas, das famílias e dos povos, e por isso intensifica, neste tempo, a oração diante de Deus e apressa-se a ir ao encontro de quem sofre. A crise social e económica, que vivemos, gera enormes injustiças e provoca diariamente imensos dramas. Não é possível ignorar a dor dos que sofrem ou esconder as lágrimas dos pobres atingidos pela amargura da fome, do desemprego, do desânimo, do abandono, da injustiça, da insegurança ou do medo. Esta é uma hora urgente da acção. Há tanto a fazer para que o Natal seja verdadeira experiência de Deus e para que Deus “habite no coração dos homens” e entre na casa de todas as famílias! Hoje já não há pastores nem reis magos, regressados do presépio e guiados pela estrela que brilha na noite, mas há mensageiros felizes do Natal (crianças, jovens, adultos e idosos) a caminho das casas sem pão e das famílias sem paz, decididos a ir ao encontro das pessoas sem abrigo, sem família, sem trabalho, sem saúde ou sem liberdade. Há gente a repartir o seu salário, instituições e comunidades a multiplicar criativamente as suas respostas solidárias e empresas a fazer um esforço acrescido na consolidação de um trabalho estável e na repartição justa dos resultados conseguidos. Muitos destes mensageiros caminham sem rótulos nem títulos. São os humildes e os simples, os puros e os misericordiosos, os justos e os construtores da paz, aqueles a quem Jesus chamará mais tarde “bem-aventurados”. São todos quantos realizam diariamente o milagre da multiplicação das obras de misericórdia, aqueles a quem Jesus um dia dirá: “vinde benditos de meu Pai”. São, irmãos e irmãs nossos, voluntários de tantas formas de bem-fazer e pessoas anónimas de rosto sereno, de olhar atento e de coração solidário, corresponsáveis na esperança e servidores da caridade na verdade. Que Jesus encontre em cada um de nós o seu presépio, porque “é dentro de nós que Jesus nasce”!
Um santo Natal e um feliz Ano de 2011.
D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro