Manifestou-se a bondade de Deus (Tit. 3,4)
A bondade é intrínseca à essência de Deus. Mas como a Deus ninguém jamais o viu, também não poderemos captar a Sua bondade a não ser que Ele no-la manifeste. E foi o que Ele fez. Para nos manifestar a Sua bondade, veio viver para o meio de nós. O Verbo de Deus encarnou no seio da Virgem Maria, fez-se homem para que os humanos pudessem captar a Sua bondade e a forma como Ele a colocou ao nosso alcance e ao nosso serviço.
O Evangelho diz-nos o que fez Deus para que nós pudéssemos captar a Sua bondade: desceu do céu à terra e assumiu a nossa humanidade; apresentou-se revestido de humildade; na sua relação privilegiou os mais carenciados de bens materiais, de saúde e de apoio moral; levou a sua bondade até ao extremo de entregar voluntariamente a própria vida pela salvação da humanidade pecadora.
A manifestação da bondade de Deus não tinha como finalidade única enriquecer a nossa informação, o nosso conhecimento. Ia muito mais além. Deus quis libertar-nos do pecado, elevar-nos até à divindade. Desceu do Céu à terra para que nós fôssemos elevados da terra ao Céu. E mostrou-nos o caminho a percorrer para chegar lá, dando-nos o exemplo de vida e acrescentado: como Eu fiz, fazei vós também (Jo 13,15).
Contemplando Jesus Cristo, imagem da substância de Deus, compreenderemos qual deva ser a nossa atitude de cristãos perante a vida e perante os outros, em todo o tempo e lugar, e, nomeadamente, no contexto actual de crise, que tem vindo a lançar tantos concidadãos e irmãos nossos no desemprego, na pobreza inesperada, no rebaixamento social e moral. Cresce, dia a dia, o número dos que se vêem obrigados a recorrer às instituições de solidariedade e a estender a mão à caridade de pessoas singulares. Aumenta o número dos que vivem isolados, gastos pela idade ou deteriorados pela doença. Há crianças e jovens que padecem graves carências alimentares e afectivas. Centenas de homens e mulheres fazem da rua a sua casa por não possuírem o abrigo de um tecto, onde se possam acolher e descansar.
De todas essas situações se elevam gritos silenciosos, dirigidos ao coração dos seus semelhantes mais afortunados, para que, movidos pela bondade aprendida em Jesus Cristo, venham em seu auxílio. Como as vozes dos que esperavam o Messias, as vozes dos pobres dos nossos dias chegam ao trono de Deus. E agora é a nossa vez de escutar os apelos de quem espera que a bondade de Deus se manifeste por nosso intermédio. Para isso, a exemplo de Cristo, revestidos de humildade e de bondade, devemos ir ao encontro dos que precisam, dispostos a partilhar o que temos e o que somos.
Não tapemos os ouvidos – ouçamos os gritos dos pobres. Não cerremos os olhos – vejamos o que se passa à nossa volta. Não fechemos o coração – deixemo-nos comover pela indigência dos abandonados, dos marginalizados e dos isolados. De braços estendidos e mãos abertas, partilhemos os bens materiais, os afectos e os dons espirituais com que fomos enriquecidos pela bondade de Deus, que se manifestou neste mundo, para a todos enriquecer com os seus bens.
Desejo a todos um Santo Natal de partilha, de bondade e de AMOR.
+José, Arcebispo de Évora