Caminhar juntos na Esperança
Estimados diocesanos, saúdo-vos neste tempo de Natal com a certeza que o caminho percorrido durante os últimos quatro anos do nosso Plano Pastoral Diocesano nos fez crescer em maturidade cristã e, por isso mesmo, em testemunho de vida. Celebramos em 2022 o último Natal do quadriénio pastoral em que ressoou em nossas vidas a consciência que ser discípulo é ser missionário da esperança. As apreensões face ao futuro que marcam o nosso tempo, fizeram-nos crescer numa maior consciência da urgência da nossa missão perante o mundo que anseia por ser mais humano e mais fraterno.
Neste Natal, reafirmamos à luz da fé que a missão da Igreja se centra na certeza de que só Jesus Cristo é a fonte e a meta da verdadeira esperança. Esta descoberta assumida pelos pastores de Belém e pelos magos do Oriente faz-nos redescobrir a nossa identidade como Discípulos Missionários da Esperança.
Nesta peregrinação de maturidade cristã, temos como ícone Maria, Mãe de Jesus: “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc. 1, 39). O caminho que Maria percorreu de Nazaré a Ainkarim foi o mesmo que percorreu a Arca da Aliança quando David a transportou através da terra de Judá até Jerusalém (2 Sm. 6, 2); pela mesma estrada caminhará Jesus quando se dirigir a Jerusalém para por nós oferecer a Sua vida (Lc. 9, 51). Três viagens, a da Arca, a de Maria e a de Jesus; todas seguem o mesmo caminho de Deus rumo à Humanidade velha e necessitada de se encontrar com Aquele que é luz entre as trevas, o Emanuel.
Maria ensina-nos que quem está cheio do Espírito de Deus, caminha de coração alegre, de ânimo aberto, mesmo por estradas fatigantes. A maternidade de Maria, presente no Presépio de Belém, expressa a grandeza pessoal d’Aquela que pôs toda a sua esperança no poder da Palavra de Deus. Como ela, somos nós convidados a percorrer os mesmos caminhos carentes de salvação e marcados pela cultura da morte. Discípulos Missionários da Esperança que erguem com as suas vidas a luz entre as trevas.
Percebendo nós o grito da Terra e dos pobres, através da pandemia de SARS-CoV-2, da trágica guerra na Ucrânia, com cruéis desumanidades e previsto agravamento do sofrimento com mortes de crianças e populações indefesas, inclusivamente pelo frio e pela fome; sentindo-se por toda a Casa Comum a deterioração das condições económicas básicas, derivadas deste e de outros conflitos que agudizam o empobrecimento e a miséria dos mais frágeis e sem voz do nosso planeta; constatando-se a constante agudização das condições climatéricas com graves e irreversíveis riscos de danos para todo o planeta, nomeadamente ao nível do desaparecimento de espécies criadas por Deus na beleza da biodiversidade; sofrendo o nosso País o revés golpe do retrocesso civilizacional que significa a pretensa aprovação da eutanásia e da morte assistida; experimentando nós a desertificação populacional do mais extenso território diocesano de Portugal, com a perca de 14.282 pessoas no distrito de Évora e de 23.239 habitantes no território da Arquidiocese, constituído por 24 concelhos centro alentejanos, alto alentejanos e ribatejanos, percebemos a urgência de partir, com Maria, e levar o rosto amoroso de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo a todos os recantos que anseiam sequiosamente por um Natal de renovação de critérios e valores para que o mundo e a nossa região sejam diferentemente valorizados.
Porque tudo começa no coração de cada homem, de cada mulher e de cada jovem urge partilhar a luz de Cristo com todos os Irmãos, eis a nossa missão! Seja-me permitido lembrar os nossos queridos irmãos idosos, dos quais 44.511 foram sinalizados como sobreviventes à solidão ou ao isolamento. Fixemo-nos no nosso distrito de Évora onde 2924 idosos aguardam gestos de procura, de encontro e de presença, compromisso, promoção humana, ternura, carinho e os diversos apoios necessários às suas idades. Sinais dos tempos a pedir-nos que ultrapassemos as barreiras do egoísmo individualista gerador de “natais consumistas”, marcados pelo banal e pelo fútil e nos encontremos com a raiz desta solenidade em que Deus se faz homem para que os homens sejam filhos de Deus e irmãos entre si.
Ergue-se um grande sinal de esperança, um abraço universal de paz, eco e continuidade deste Natal, refiro-me à Jornada Mundial da Juventude, que olhará para a Mãe de Jesus como educadora “Maria levantou-se e partiu apressadamente”.
Será a nova geração de cristãos, os jovens que nos acompanham e interpelam, capazes de fazer acontecer o espírito do Natal na sua geração? Com São João Paulo II, iniciador destas Jornadas, continuamos a ecoar: “Só os jovens, sabem evangelizar os outros jovens”. Quanto necessita a nossa Arquidiocese de rejuvenescer! Como é urgente que nesta Igreja particular haja Natal, natalidade, vida! Como não perceber que jovens vidas abracem a vocação exclusiva ao serviço do Reino de Deus, nem como a beleza na família, construída a partir do matrimónio cristão? Como é importante sermos semeadores de esperança quando se percebe desistência, apatia, alheamento e indiferença. Que cada cristão leve o espírito do Natal a todos os que o procuram ou desistiram de sonhar a possibilidade de um mundo novo.
Caros sacerdotes, diáconos, consagrados, seminaristas, famílias cristãs, rezo para que sejais obreiros do nascimento de Cristo no nosso quotidiano, no mundo que nos é dado viver, pensando nos doentes, nos idosos, nas pessoas com deficiência, nos presidiários, nos sós, nos pobres, e nos desterrados. Solicito a todos, neste tempo santo de Natal, mais caridade operativa e maior comunhão de oração.
Para todos Santo e Feliz Natal!
Évora, 20 de dezembro de 2022
+ Francisco José,
Arcebispo de Évora