Natal, uma boa notícia para os pobres!
«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.» (Lc 4, 18-19)
Estas palavras de Jesus no inicio da sua vida pública deixam bem claro ao que vinha: trazer Boas Notícias aos pobres. Quer Deus que tenhamos vida e vida em abundância.
No entanto, o mundo de hoje está cheio de más notícias sobretudo para os mais pobres. Problemas como os salários baixos, a precariedade no trabalho, os longos e desregulados horários de trabalho, os acidentes de trabalho, as más condições de trabalho e de habitação, a carestia de vida, junto com a pandemia e a guerra e todas as suas consequências, agravam as nossas condições de vida.
No presépio, vemos o Nascimento de Jesus. Uma mulher de uma família pobre, Maria de seu nome, grávida, sem certezas do seu futuro, na iminência de dar à luz, refugia-se numa gruta, (não na melhor clínica) como tantos pobres que não têm casa ou foi destruída pela guerra ou pelas alterações climáticas, não têm trabalho e dormem na rua, em fuga na busca de uma vida melhor. O presépio, (como nos diz o Papa Francisco na carta apostólica de 2019) é um convite a «sentir», a «tocar» a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados (cf. Mt 25, 31-46).
O Natal que hoje vivemos requer um olhar para a realidade de vida, especialmente focado nos que sofrem, vítimas de abandono da sociedade, os que “pouco contam”. Os trabalhadores de profissões pouco especializadas, desempregados ou que apenas conseguem algum tempo de trabalho, ora têm trabalho, ora não tem, vivem em bairros pobres e não conseguem sair desta situação que se perpetua. Muitos trabalhadores desprotegidos de seus direitos laborais básicos, sem contrato de trabalho, migrantes a trabalhar na economia paralela ou em situações degradantes e formas de exploração inconcebíveis. Por muito que se fale dos problemas da sociedade, dos pobres, há poucas mudanças de fundo, continua a haver empobrecimento dos excluídos, dos mais pobres, com menos capacidade produtiva.
Manter a Luz em tempos de escuridão do mundo.
Os Cristãos ao celebrar o Natal devem realizar uma profunda reflexão pessoal de como sermos continuadores da mensagem do Cristo feito homem. Temos de cultivar a arte de compreender, de ver mais a fundo, de ver além do papel de embrulho e das luzes de Natal. Sermos interpretadores da vida quotidiana à luz da fé, retirar significado das experiências dos acontecimentos da vida de todos os dias, até dos mais difíceis de compreender. Veremos então que a “Boa Nova” do Natal possui uma força intrínseca, transformadora e solidária que queremos fortalecer cada vez mais junto dos que sofrem, com um olhar afetivo, gratuito e desinteressado, marcado pela ternura, pela compaixão, gerador de misericórdia.
Como militantes cristãos, estamos atentos e vivemos por dentro o quotidiano da vida dos mais pobres. Estas realidades têm passado pelas Revisões de Vida Operária (RVO) que realizamos nas nossas equipas e têm-nos interpelado fortemente sobre a nossa maneira de ser e estar. Animados pelo Espírito de Deus, procuramos agir nos locais da convivência humana, por melhores condições sociais para todos. Sermos uma Igreja em saída, expressão de sinodalidade.
Apelamos a que participem nas ações da LOC/MTC pelo «trabalho digno» e por «cuidar da casa comum» onde seja bom viver, “onde o trabalho seja para o homem e não o homem para o trabalho “ que é também uma maneira de fazer Natal na vida de cada um, nunca nos conformar-mos com as injustiças, com a violência e acolher pequenos sinais de transformação na vida dos mais pobres.
As situações resultantes da pandemia e da guerra que temos vivido, ajudam-nos a compreender o valor da solidariedade e da fraternidade, a superar o virús do individualismo, da indiferença e redescobrir o sentido da humanidade e do cuidado. Estes valores dão forma às lutas contra a injustiça, a morte e a divisão. Não prescindimos desta esperança que nos traz o Natal! Uma esperança que se torna estímulo, força e ação de quantos lutam por um mundo melhor.
NATAL DE 2022