“A Luz brilhou nas trevas” (Jo 1,5)
Eis que sai ao nosso encontro a Luz que nos desperta da sonolência, reergue o nosso olhar e faz-nos retomar o caminho.
Neste Natal Jesus vem de novo para ser a “Luz dos homens”. Somos visitados pelo Deus da consolação, capaz de se fazer presença nas margens, para dar novo brilho na noite do nosso existir. O nosso Deus, incapaz de ficar indiferente ao grito do seu povo que sofre, encarna a situação das pessoas sofredoras e fortalece-as, ajudando a refazer as suas vidas e a nascer de novo, mesmo no meio das dificuldades; rompe com a fatalidade dos mais pobres e faz-nos participar numa nova aliança; faz brotar a alegria de vidas fragilizadas, porque libertadas e libertadoras; sustenta a nossa sede de justiça, porque conduz-nos ao encontro do irmão ferido.
Esta presença do Deus Menino entre nós, humilde e simples, ajuda-nos a contemplar a vida dos homens e das mulheres do nosso tempo, marcada por situações de trevas e perante as quais não podemos calar: é a precariedade laboral que afecta já gravemente a dignidade de vida de milhares de trabalhadores, enquanto muitos outros são fragilizados pelo medo diante do futuro do seu posto de trabalho; são os novos contratos de trabalho cada vez mais precários, com horários cada vez mais desregulados – com evidentes prejuízos para a saúde e estabilidade familiar – e com muito mais baixas remunerações; são os milhares de homens e mulheres excluídos do acesso ao trabalho, incluindo aqueles que são considerados velhos para trabalhar e novos para a reforma; são tantos jovens, mesmo os mais qualificados, que não encontram também o seu merecido emprego que lhes dê estabilidade financeira para constituir a sua família e projectar o seu futuro; são os salários irrisórios e o desemprego crescente, as principais causas do aumento da pobreza e da desestruturação de tantas famílias; são os imigrantes, tantas vezes apontados como causa dos problemas económicos e do aumento dos conflitos sociais, levando a um crescente sentimento xenófobo, quando as realidades e as estatísticas comprovam o grande contributo dos imigrantes no desenvolvimento económico, no crescimento demográfico e na riqueza da diversidade cultural; são os países que enfrentam actualmente dificuldades financeiras, com défices orçamentais e dívida pública as principais vítimas dos usurpadores de riqueza não produtiva e insustentável, onde entre os mais sacrificados encontram-se os trabalhadores e as populações mais pobres.
São tantas as pessoas que procuram uma saída para as suas vidas, marcadas pela incerteza e pelo medo. É precisamente aí que o Menino Jesus, a nossa luz, quer nascer.
A Luz entrelaça-se no sofrimento para fortalecer a fragilidade e instaurar o Reino de Deus, onde o “direito e a justiça” querem germinar.
Acolher Jesus, Luz do mundo, é viver o verdadeiro espírito de Natal. É participar e colaborar na nova criação, porque anunciadora de um novo mundo.
Santo Natal.
Equipa Executiva Nacional