Mensagem de Natal 2018 do bispo de Leiria-Fátima

Natal 2018: Um novo abraço entre gerações

Estamos a caminho do Natal, a celebração do mistério admirável de Deus feito homem. O acontecimento que festejamos não pertence só ao passado. Nunca cessa de se atualizar, é sempre novo. Deus decidiu vir ao nosso encontro e na sua carne humana abraçar a todos com a sua ternura no rosto encantador de Jesus-Menino. Ao mesmo tempo, introduz esta ternura nos corações humanos para os aproximar uns dos outros.

O presépio representa plasticamente a beleza deste mistério, e convida-nos a assumir a cultura do encontro, da aproximação e da proximidade, da ternura. Esta é uma das marcas mais belas que o Natal de Cristo deixou na nossa cultura e na sociedade. Basta ver como ele nos mobiliza, de todas as partes, para o encontro e a festa em família e a solidariedade com os necessitados. Parece realizar-se a profecia: “Ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais” (Mal. 4, 24).

Quem não vê a atualidade deste aspeto do Natal e como é interpelador para nós hoje? Na verdade, assistimos a uma fragilização dos laços em família e na sociedade, a um distanciamento entre a geração mais nova e a mais adulta ou idosa. Este Natal desafia-nos a um abraço ou uma aliança entre gerações! Trata-se de uma questão vital para o futuro das nossas sociedades!

 

Os jovens no Natal de Cristo

A relação com os jovens esteve em foco no recente sínodo dos bispos e é o tema também do programa pastoral da nossa diocese. Um belo texto do Papa Francisco convida-nos a esta reflexão a partir da contemplação do presépio:

Ao olhar o presépio, deparamo-nos com os rostos de José e Maria: rostos jovens, cheios de esperanças e aspirações, cheios de incertezas; rostos jovens, que perscrutam o futuro com a tarefa não fácil de ajudar o Deus-Menino a crescer. Não se pode falar de futuro sem contemplar estes rostos jovens e assumir a responsabilidade que temos para com os nossos jovens; mais do que responsabilidade, a palavra justa é dívida: sim, a dívida que temos para com eles.

Criamos uma cultura que, por um lado, idolatra a juventude procurando torná-la eterna, mas por outro, paradoxalmente, condenamos os nossos jovens a não possuir um espaço de real inserção, porque lentamente os fomos marginalizando da vida pública, obrigando-os a emigrar ou a mendigar ocupação que não existe ou que não lhes permite projetar o amanhã… Esperamos deles e exigimos que sejam fermento de futuro, mas discriminamo-los e «condenamo-los» a bater a portas que, na maioria delas, permanecem fechadas.

Somos convidados a não ser como o estalajadeiro de Belém que, à vista do jovem casal, dizia: aqui não há lugar.Não havia lugar para a vida, não havia lugar para o futuro. A cada um de nós é pedido para assumir o compromisso próprio – por mais insignificante que possa parecer – de ajudar os nossos jovens a encontrar aqui na sua terra, na sua pátria, horizontes concretos de um futuro a construir…

Contemplar o presépio desafia-nos a ajudar os nossos jovens para não ficarem desiludidos à vista das nossas imaturidades, e a estimulá-los para que sejam capazes de sonhar e lutar pelos seus sonhos; capazes de crescer e tornar-se pais e mães do nosso povo”.

 

Um novo abraço entre gerações

Não podemos deixar os jovens sozinhos. Correm o risco de ficarem fechados no mundo das relações virtuais, desenraizados, sem as raízes vitais da carne e do sangue, de histórias e de experiências ricas de amor. Há que recordar-lhes que uma vida sem amor é uma vida árida. Há que ajudá-los a enfrentar o futuro sobretudo quando este gera ansiedade, insegurança e medo.

Por isso, como diz Tolentino de Mendonça, “é preciso que os adultos testemunhem aos jovens que a sua irrequietude é um dom; que a sua sede de verdade e de beleza representam um tesouro; e que vale a pena acreditar”.

É também desejável “um mundo que vive um novo abraço entre os jovens e os idosos”(Papa Francisco). Neste sentido é necessária a audácia da ternura para criar quotidianamente uma ponte para aproximar um jovem a um idoso e vice-versa. Mas este abraço enriquece a todos e leva a um avanço da sociedade, torna-a mais humana.

São belos o encorajamento e a memória rica de vida que um idoso consegue comunicar a um jovem à busca de sentido da vida. Esta tem sido a missão de muitos avós neste tempo de crise, mesmo ao nível da fé. Em muitas famílias são eles que transmitem a fé através de testemunhos vividos. Caros idosos e caros jovens, caros avós e netos, não deixeis perder a beleza e o encanto da ternura nas vossas famílias e na sociedade!

 

Um abraço aos mais frágeis e vulneráveis 

O nosso abraço fraterno próprio do Natal estende-se, de modo particular, aos irmãos mais frágeis e carenciados, os sós, os doentes, os presos, os descartados, sob a forma de ternura, proximidade, partilha e solidariedade. “É Natal cada vez que sorrio ao meu irmão e lhe ofereço a minha mão” (Madre Teresa de Calcutá)! Ninguém fique indiferente.

Apelo vivamente à participação de todos na iniciativa de solidariedade de Natal promovida pela Caritas Nacional e levada a cabo pela nossa Caritas Diocesana “10 milhões de estrelas” – um gesto pela paz”. Cada vela custa 1 euro. As verbas resultantes desta campanha revertem para a Caritas Diocesana no apoio às famílias locais necessitada se para a Caritas da Venezuela a fim de garantir o acesso à saúde e o apoio nutricional a crianças até aos 5 anos e a mulheres em situação de gravidez de risco.

A todos os diocesanos, os meus votos de Santo Natal e Feliz Ano 2019!

Leiria, 11 de dezembro de 2018

† Cardeal António Marto

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