Homilia do bispo de Viseu no Domingo de Páscoa

«Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos». O Evangelho termina de forma muito crítica ao discipulado dos Apóstolos, depois de terem andado 3 anos com Jesus e de esta ser a Verdade fundamental – o ponto de chegada e a síntese da Boa Nova. E nós – de verdade entendemos a Páscoa?

Não nos admiremos da incredulidade dos Apóstolos! Nem da incredulidade das pessoas que nunca partilharam nem experimentaram privar com J. Cristo Ressuscitado, na Palavra da Escritura, na Eucaristia e na oração – oportunidades de celebração da Páscoa e de encontro feliz com o Senhor, em cada Domingo.

Os Apóstolos – e tantos outros, ainda hoje – “não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos”. Por isso, que surpresa a deles, quando O viram e Lhe tocaram e comeram com Ele e O reconheceram ao partir o Pão!

Por outro lado, nós, que sabemos tão bem a história descrita nos Atos dos Apóstolos, experimentada por Pedro e ouvida, por nós, tantas vezes! Nós, que sabemos todo o bem que Jesus fez e faz! Nós, que nos alimentamos da Eucaristia – o Pão da Vida! Nós, que nos apresentamos como testemunhas de tanta coisa que aprendemos na Catequese e na Igreja! Quem de nós já entendeu a Escritura, vive segundo os valores do Ressuscitado e O torna referência obrigatória, na vida e nos critérios que a orientam?

Olhemos a 2ª leitura! Paulo diz-nos: “se ressuscitastes com Cristo”… Será mesmo que sim? Será que entendemos a Escritura e a nossa Fé se exprime numa relação – com Jesus e com a Igreja, com o mundo e com os homens? Será mesmo que a nossa vida cristã é credível, séria e consciente, assumindo as consequências?

Se isto é verdade, se estamos ressuscitados com Cristo, desde o Baptismo, surge a coerência de um imperativo ético e moral: “aspirai às coisas do alto”… E, ainda: “Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra”. Uma bela proposta para exame de consciência pascal da Fé e da vida cristã… A nossa vida ou é lida pela “chave” da Ressurreição ou é lida pela “chave” terrena…

São diferentes as consequências e os efeitos de uma e de outra forma de viver… A nossa vida tem a marca que vem do alto ou a que vem da terra? A “da terra” é de horizontes limitados, sempre relativos e procura o que vê e sente possível neste mundo; a “do alto” projecta-nos para a Esperança e para o Amor, valores que devem estar presentes nas nossas opções diárias…

Não é fácil viver e anunciar a Páscoa e “as coisas do alto” às pessoas com a mentalidade e a cultura reinantes do mundo de hoje. Porém, foi fácil aos Apóstolos e à Igreja dos primeiros tempos acreditar na Páscoa de Jesus? Celebrar e viver a Páscoa, aderindo “às coisas do Alto” supõe morrer para o que não é Vida, Verdade, Justiça, Solidariedade, Amor, Paz… mesmo que tenhamos que ir até ao fim e dar a vida, como Jesus.

A Páscoa de Jesus é o mistério central da fé e o fundamento da nossa libertação. Ela salva o homem de todas as escravidões e injustiças, de todas as crises e pessimismos. É a resposta às aspirações mais profundas do ser humano – vencer todos os limites, inclusive o da morte. Perante o fracasso das ideologias que não respondem às grandes questões humanas e perante as expectativas na felicidade terrena e total, vindas da ciência, da técnica e do progresso humano… A Ressurreição de Jesus é Acontecimento que garante a vida e o futuro…

Não deixemos morrer a Páscoa e tornemo-la semente fecundante dos nossos sonhos, compromissos e ações para a transformação da Igreja e do Mundo!

Cristo Ressuscitou, ALELUIA! Santa e Feliz Páscoa para vós e para todos! ALELUIA! Que a vida e o mundo se encham de alegria e cantem ao Senhor nosso Deus e Salvador. AMEN! ALELUIA!

Viseu. 01 de abril de 2018

D. Ilídio Leandro

Bispo de Viseu

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