Para maior glória de Deus.
É a Ele que, neste momento, quero louvar e, ao mesmo tempo reafirmar a minha inteira disponibilidade para servir, com todo o meu ser e durante todo o meu ministério.
Há 31 anos, foi guiado pela narração do chamamento de S. Mateus que percebi não dever hesitar, para deixar tudo por causa do amor que o Senhor Jesus continuava a ter pela imensa cidade dos homens. Então, perguntava-me se seria capaz. Olhando do miradouro do Seminário de Almada para a nossa cidade de Lisboa, percebi que, confirmado pelos sacerdotes que se encontravam à frente do Seminário, se o convite vinha do Senhor, tudo era possível.
Alguns dias atrás, foi o mesmo Senhor que, passando uma vez mais por mim, através do Sucessor de S. Pedro, o Papa Bento XVI, a quem sempre, e de um modo cada vez mais claro e firme, quero estar unido na comunhão, na obediência e na escuta atenta do seu magistério, foi o mesmo Senhor quem me chamou a fazer parte do Colégio Apostólico.
Se, por um lado, tudo isto me causa espanto, mesmo temor, por outro não pode deixar de me maravilhar. Deus, com efeito, pode fazer mais, imensamente mais, connosco e por nós, que aquilo que possamos sequer imaginar (cf. Ef 3,20). E se algum testemunho posso oferecer acerca da minha vida de cristão e de sacerdote, é esse de, em cada dia que passa, os dons da Graça divina saírem, misteriosamente, ao meu encontro e, diante dos meus olhos, realizarem maravilhas que nunca poderia agradecer de um modo suficiente e perfeito ao Senhor, não fora o cálice da salvação que Ele coloca nas minhas mãos, e a possibilidade de invocar o Seu nome (cf. Sl 116,13).
Na verdade, abandonado às minhas simples forças humanas, nunca seria capaz de agradecer plenamente a Deus a família onde nasci, unida e marcada na sua vida quotidiana pelos ritmos da fé; nunca seria capaz de Lhe agradecer perfeitamente o milagre de tantos que persistem em oferecer-me o dom da sua amizade e o testemunho da fé; nunca seria capaz de Lhe agradecer os dias de trabalho nas comunidades do Seminário e da Faculdade de Teologia, a franqueza do procurar, mas também o entusiasmo, a alegria e a completa dedicação a Deus e à obra evangelizadora, da parte de alunos e membros das Equipas Formadoras e professores; nunca seria capaz de agradecer perfeitamente ao Senhor tudo o que recebi desta nossa Igreja de Lisboa e das comunidades onde exerci o sacerdócio ministerial; nunca seria capaz de agradecer-Lhe plenamente os meus irmãos no presbitério, os dons da amizade e das inúmeras expressões de comunhão que, ao longo destes anos se foram traduzindo em gestos bem concretos; nunca seria capaz de Lhe agradecer o dom dos mestres, sábios e amigos, que Ele colocou no meu caminho, em particular do nosso Patriarca, de D. Rino Fisichella e de D. Manuel Clemente.
Olhando para trás, como outrora Pedro, e de uma forma muito humana, também agora me surge espontâneo: “Senhor, trabalhei a noite inteira, sem nada apanhar” (cf. Lc 5,5). Mas sei igualmente que, aos meus ouvidos, ressoa o convite do Mestre, repetido no final do Jubileu do ano 2000 pelo Beato João Paulo II, como expressão da urgência evangelizadora que se apresenta diante da Igreja deste novo milénio: “Duc in altum”, “faz-te ao largo”.
Caros irmãos,
Pedi a Deus que também agora e pelo resto da minha vida, ajudado pela Graça divina e pela amizade, oração, encorajamento e colaboração fraterna de todos, eu seja capaz de responder como S. Pedro: “in verbo tuo laxabo rete” – na Tua Palavra, por causa dela, e apesar de todas as minhas dificuldades e incapacidades; na Tua Palavra, com a ousadia da fé que só ela é capaz de suscitar; na Tua Palavra lançarei as redes.
Mosteiro dos Jerónimos, 20 de novembro de 2011
D. Nuno Brás, bispo auxiliar de Lisboa