«Caminho de libertação e crescimento na Fé» Com a celebração da Quarta-feira de Cinzas vamos entrar no grande tempo de preparação para a Festa da Páscoa. Tempo de conversão, tempo de um maior empenhamento da nossa vida de fé. Desde há muitos séculos, o período quaresmal caracteriza a vida do discípulo de Cristo e da comunidade cristã. As circunstâncias do momento histórico em que vivemos, marcado por um secularismo asfixiante, aconselham a que se revitalize o espírito da Quaresma, de modo a formar personalidades de uma fé sólida e de uma caridade operante. Na sua mensagem para a Quaresma de 2008, o Papa Bento VXI acentua: “No tempo quaresmal, a Igreja tem o cuidado de propor alguns compromissos específicos que ajudem, concretamente, os fiéis neste processo de renovação interior: tais são a oração, o jejum e a esmola”. Dos três compromissos o Santo Padre destaca a esmola como o tema fundamental para este ano: “Desejo deter-me fundamentalmente este ano sobre a prática da esmola, que representa uma forma concreta de socorrer quem se encontra em necessidade e, ao mesmo tempo, uma prática ascética para se libertar da afeição aos bens terrenos”. Diversas correntes de pensamento têm procurado desvalorizar e até denegrir o sentido da esmola. Pode, de facto, existir um conceito falso de esmola. Este conceito existe, quando se pretende oferecer como caridade aquilo que é imperativo da justiça. Segundo a doutrina da Igreja, ninguém é proprietário mas administrador dos bens que possui. “Os bens materiais possuem um valor social, exigido pelo princípio do seu destino universal” (Cat Igr. Cat. n.2403). Mas nesta perspectiva cristã da justiça e da solidariedade, há sempre um lugar próprio para a prática da esmola. Já Jesus alertava para a realidade da pobreza e para a obrigação de lhe dar resposta (cf. Mt.25). Sempre haverá quem necessita de ajuda, de pão, de roupa, de casa, de dinheiro. As colectas em favor dos pobres caracterizavam já as comunidades cristãs do tempo dos Apóstolos, como aquela que S. Paulo promoveu em favor dos cristãos de Jerusalém. É esse mesmo espírito de solidariedade que dinamiza hoje as campanhas de renúncia quaresmal, promovidas pela Igreja em muitos países, e cujo produto se costuma destinar a comunidades pobres e carenciadas. A Arquidiocese de Évora tem-se empenhado, desde há alguns anos, nesta iniciativa de amor fraterno e de partilha. De novo, nesta Quaresma de 2008, convido a comunidade diocesana ao salutar exercício da renúncia e da partilha. E anuncio que vamos partilhar os frutos da renúncia quaresmal com os irmãos de Moçambique, duramente atingidos pelas cheias, colaborando directamente com a Cáritas daquele País. Com amor, com coragem e com humildade, saibamos renunciar a algumas coisas, como forma de libertação e de ascese, e abramos o coração e as mãos, numa atitude saudável de quem aprendeu o sentido de dar. À Caritas Diocesana, sempre tão dedicada em realizar este serviço eclesial, confio, mais uma vez, a nobre tarefa de coordenar esta actividade. Que Maria, Serva fiel e Mãe de todos os homens, nos ajude a percorrer generosamente o itinerário quaresmal. Évora, 25 de Janeiro de 2008 + Maurílio de Gouveia, Administrador Apostólico de Évora