Mensageiros da Misericórdia

Homilia de D. Manuel Pelino nas ordenações de 15 de Julho 1. Sacerdócio um dom de Deus. A ordenação de quatro presbíteros é motivo de grande alegria para a Igreja, designadamente para esta porção do Povo de Deus formada pela diocese de Santarém, que muito precisa e reza pelas vocações consagradas e hoje recebe três jovens sacerdotes (o Pedro Dionísio, o Mário Taglialatela e o Ricardo Conceição), e também para a Companhia de Jesus, para cujo serviço se ordena o Fernando António, originário da nossa diocese e aluno dos nossos seminários quase até ao final do curso de teologia. A sua vocação para a Companhia de Jesus é também um sinal de riqueza espiritual e um motivo de regozijo para a diocese de Santarém que celebra hoje o 32º aniversário da sua criação e se sente honrada pela escolha do Fernando de nela celebrar a ordenação. Recebemos estes quatro sacerdotes como um dom Deus. O sacerdócio é, antes de mais, um dom de Deus. É o Senhor quem os chamou, os santifica pela força do Seu Espírito e os torna dispensadores dos Seus mistérios. Os textos da liturgia realçam com insistência o primado da iniciativa e da graça divinas. Assim reza o prefácio: “Ele (Jesus Cristo) não só revestiu do sacerdócio real todo o seu povo santo, mas também, de entre os seus irmãos, escolheu homens que, mediante a imposição das mãos, participam do seu ministério sagrado”. Chegamos ao sacerdócio, não por iniciativa ou mérito pessoal, mas por iniciativa e graça divina. Certamente que os candidatos merecem aplauso e reconhecimento pela generosidade da resposta e pela fidelidade com que servem. Mas a missão que realizam e os mistérios que são chamados a dispensar superam as capacidades e méritos pessoais. Pelo sacramento da ordem somos mediadores e testemunhas dos dons de Deus que ultrapassam os nossos méritos humanos. A alegria pelo dom do sacerdócio está, portanto, associada à acção de graças e ao louvor a Deus, origem de todos os dons. Que Deus seja bendito e envie à sua Igreja os obreiros do evangelho suficientes para continuar a missão de alimentar e fortalecer a fé dos fiéis e de pregar o evangelho a todas as criaturas. Os nossos agradecimentos dirigem-se também a todos vós. Aos ordinandos pela sua disponibilidade e confiança no Senhor. Aos formadores que os acompanharam e guiaram no caminho da adesão à vocação e da formação para o ministério. Aos presbíteros em geral que rezam pelas vocações e se esforçam por tornar audível aos jovens o chamamento de Deus e encontrar continuadores da sua missão pastoral. Aos presbíteros ligados mais de perto a estes ordinandos que os incentivaram e apoiaram no itinerário vocacional ou na prática pastoral. Às famílias de origem pela vida e educação humana e cristã que lhes transmitiram. Às comunidades cristãs que os ajudaram a descobrir a vocação e a crescer na dedicação ao povo de Deus. A todos os que, pela oração e pela estima, apoiam as vocações. Que Deus vos recompense. A alegria e o louvor com que recebemos e agradecemos o dom do sacerdócio, conduzem a uma atitude de liberdade interior no exercício do ministério, tão importante num ambiente de muitas e subtis dependências. O presbítero recebe de Deus, através da Igreja, uma missão e responde perante Deus e a Igreja. Dedica-se aos homens, procura atrai-los para as redes da comunhão eclesial mas mantêm a sua liberdade perante as pessoas e os grupos, perante a carreira pessoal, perante as honras e os bens do mundo. A sua força está em Deus, os seus critérios regem-se pelo evangelho e pelo bem das almas. Recebeu de graça, dá de graça. A liberdade no serviço do evangelho deve ser acompanhada da humildade que nasce da consciência dos limites pessoais e da convicção de que o ministério não confere superioridade moral mas uma maior responsabilidade e disponibilidade para servir. O sacerdócio ordenado é apenas um sinal e um instrumento da acção divina. A fonte da alegria e do louvor, da liberdade e da humildade, encontra-a o presbítero na intimidade com Deus, sua verdadeira herança e razão profunda da sua actividade pastoral. Procura, portanto, seguir o conselho de Santo Agostinho: “Sê homem de oração antes de seres pregador”. Só a partir da amizade com Jesus Cristo e da contemplação do Seu rosto, poderá testemunhar com credibilidade a Sua Ressurreição. A vide espiritual é o primeiro pilar de um ministério feliz e fecundo. 2. Um Dom de Deus para a Igreja. O ministério sacerdotal é um dom de Deus para a Igreja, integra-se na construção da Igreja como um templo santo edificada sobre o alicerce dos apóstolos e em que Cristo é a pedra angular, segundo nos afirmava a Carta aos Efésios que ouvimos. É uma construção que deve processar-se de forma articulada, em que os carismas de cada um se conjugam em harmonia com a acção de todo o organismo eclesial, sem protagonismos pessoais mas em conjugação com outros carismas, em espírito de equipa. Deste modo, o ministério do presbítero tem sentido quando exercido em Igreja e para a Igreja. Ordenamo-nos para servir a Igreja, onde e como a Igreja precisa de ser servida e não segundo as nossas conveniências ou interesses. Servindo a Igreja servimos Cristo, de modo que seja o Senhor e não o servo a merecer a honra, a glória e o louvor. Assim, o ministério do presbítero é um serviço à comunhão eclesial. Pede-se ao presbítero que testemunhe e promova a espiritualidade de comunhão através da conversão ao amor de Deus e ao amor fraterno. Na luz do amor de Deus aprendemos a ver os outros numa perspectiva positiva de amor, de misericórdia e de compreensão. É neste contexto que se pode cultivar a relação fraterna com todos os fiéis e a amizade aberta com os colegas, vencendo as tentações egoístas da inveja, do azedume, da maledicência. A comunhão eclesial, vivida na fraternidade das comunidades e na amizade do presbitério, é o segundo pilar que dá solidez ao exercício do ministério. 3.Um dom de Deus para o mundo. O evangelho mostra-nos Jesus que atravessa a cidade de Jericó, percorre os caminhos quotidianos que O levam ao encontro das pessoas. A certa altura presta atenção a um homem que procurava vê-lo do cimo de uma árvore e dirige-lhe a palavra: “Zaqueu desce depressa que eu hoje devo ficar em tua casa”. Zaqueu pertencia ao número dos afastados. Jesus veio procurar os que andavam perdidos, veio para os de dentro e para os de fora, para os santos e os pecadores. A todos acolhe, de todos vai à procura. Está presente na cidade e entra nas casas. Presta atenção às pessoas, dirige-lhes a palavra, mostra apreço por elas, cura-lhes as feridas. O sacerdócio é um dom para o mundo, para ir ao encontro de toda a gente e levar a salvação às casas dos homens. O presbítero é enviado ao mundo para testemunhar a misericórdia de Deus. Quantos afastados, como Zaqueu, não se deixariam transformar se fôssemos ao encontro deles, lhes prestássemos atenção e pedíssemos a sua colaboração? A paixão pela evangelização é outro pilar da fidelidade no ministério. São Francisco de Assis é um exemplo luminoso desta proximidade. Como chegou lá? Despojando-se de si mesmo para aprender com o Senhor a humildade e a misericórdia. Que a Mãe de Misericórdia nos ensine a ser mensageiros da misericórdia. D.Manuel Pelino, Bispo de Santarém

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