Menos ateus, mais indiferença religiosa

Cenário, no mundo de hoje, traçado pela Santa Sé Uma sondagem encomendada pelo Conselho Pontifício da Cultura revela que o número de pessoas que se assumem como ateias está a diminuir, um dado que é contrabalançado pela crescente “indiferença religiosa”. O organismo do Vaticano realizou uma pesquisa mundial sobre a descrença e a indiferença, em preparação da sua assembleia plenária, que decorrerá de 11 a 13 de Março. “Do ateísmo militante e organizado de outros tempos, passou-se a uma situação de indiferença prática, de perda de importância da questão de Deus, e de abandono da prática religiosa, sobretudo no mundo ocidental”, assinala o Conselho Pontifício. O estudo, que constituirá o Instrumento de trabalho («Instrumentum laboris») da plenária, foi preparado através de um “Questionário sobre a descrença” ao qual responderam correspondentes do Conselho Pontifício de todos os continentes. O mapa actualizado da descrença, traçado pelo estudo chega a seis conclusões, apresentadas a um grupo de jornalistas pelo cardeal Paul Poupard, presidente do Conselho Pontifício da Cultura. “A descrença não está a aumentar no mundo. É um fenómeno ligado, sobretudo, ao mundo ocidental”, esclarece este organismo da Santa Sé. Outra das conclusões apresentadas é a de que o ateísmo militante “está em retrocesso e não exerce nenhuma influência pública, com excepção dos regimes nos quais ainda está em vigor um sistema político ateu”, mas aponta para o despertar “de um certo laicismo militante, especialmente na Europa”. Esta observação tem em vista a recente lei da laicidade aprovada em França. Para o Vaticano, “a indiferença religiosa ou ateísmo prático” está em crescimento, vincando que estes fenómenos “tipicamente masculinos, urbanos e próprios de pessoas com um nível cultural médio-alto” estendem-se hoje às mulheres que trabalham fora de casa. O Conselho Pontifício da Cultura revela ainda que a diminuição do número de pessoas que vão regularmente à igreja não deve ser entendida como aumento da descrença, mas como “uma transformação da prática religiosa e do modo de crer: crer sem pertencer”. “Cresce também uma nova busca, mais espiritual que religiosa, que nem sempre coincide com o regresso às práticas religiosas tradicionais”, acrescenta o estudo. O cardeal Poupard, ao apresentar o trabalho, explicou que “o verdadeiro inimigo da fé não é o ateísmo agressivo. Hoje, Deus é considerado totalmente insignificante para a maior parte das pessoas”. A assembleia do Conselho, revelou o cardeal, procurará “indicar novos caminhos para responder às expectativas insatisfeitas do homem que continua a ser, apesar de tudo, um homem religioso (“homo religiosus”)”. Como passos concretos, o “ministro da Cultura” do Vaticano propôs “uma presença renovada da Igreja no debate público”, “uma nova linguagem que chegue à razão e ao coração” e que a iniciação cristã “seja assumida pela família e a comunidade de fiéis, prolongada pelas instituições educativas, e apoiada por uma catequese regada por uma liturgia densa de beleza”. QUESTIONÁRIO SOBRE A DESCRENÇA Estas são as perguntas que o Conselho Pontifício lançou aos seus colaboradores, em todo o mundo: “1. INFORMAÇÕES ÚTEIS 1.1. Existem dados numéricos ou estatísticos confiáveis relativos ao fenómeno da descrença em sua região? Em caso afirmativo, classificar se possível, por idade, sexo, actividades, etc., indicando sempre as fontes. 1.2. Quem são os não-crentes em sua região? Existem grupos, movimentos, correntes organizadas que se autodenominem explicitamente ateus ou não-crentes? Que tipo de actividades estes grupos desenvolvem? 1.3. Existem em seu país/região/diocese institutos, centros, organismos especializados no estudo da descrença? Em caso afirmativo, indique, por favor, nome, endereço e dados úteis. 1.4. Na Conferência Episcopal (ou similar) existe um sector ou pessoa encarregada do estudo da descrença e do diálogo com os não-crentes? Em caso afirmativo, indique, por favor, nome e endereço de contacto. 1.5. Que espaço é concedido à religião na escola pública e na escola católica ao longo destes últimos dez anos? Assinale, se houver, as mudanças ou modificações relevantes nesta situação. 1.6. Endereços electrónicos – URL (Internet) – úteis. Bibliografia essencial actualizada sobre o tema da descrença em sua região/país/diocese. 2. O NOVO ROSTO DA DESCRENÇA 2.1. Quais são os principais factores que alimentam hoje a descrença? Que factores modificam os traços típicos ou tradicionais da mesma? A queda dos regimes comunistas na Europa tem tido algum influxo sobre a descrença em sua região/país? Pode-se falar de um efeito da globalização sobre a descrença em seu ambiente? 2.2. Que formas de oposição à Igreja – sub-reptícia, pública, mediática – existem e que influência têm sobre a descrença? 2.3. Em que medida e em que sentido algumas atitudes características da cultura secularizada estão presentes dentro da Igreja e são compartilhadas pelos cristãos? 2.4. Pode-se falar de indiferentismo e de relativismo entre os mesmos crentes? 2.5. Existe algum tipo de diálogo com os não-crentes? Com quem, com que conteúdo e finalidade? O senhor tem alguma experiência concreta desse tipo de diálogo? 3. O DESAFIO DAS RELIGIÕES ALTERNATIVAS 3.1. Quais são os principais fenómenos ou movimentos para-religiosos de sua região: religiões alternativas, bruxaria, paganismo e neo-paganismo, cultos pré-cristãos, movimentos e cultos satânicos? Quais são suas causas? 3.2. Segundo os dados apresentados na questão 1.1., qual é a tendência destes movimentos? Crescem ou diminuem? 3.3. Existe algum tipo de vinculação, explícita ou oculta, entre estes movimentos e grupos políticos, membros do governo ou da administração pública, empresas multinacionais, etc.? 3.4. A maçonaria desenvolve algum tipo de actividade em sua região/país? Há algum tipo de diálogo com a maçonaria? 3.5. Para a Igreja de sua região ou país, que desafio pastoral representam as religiões alternativas? Concretamente, que iniciativas pastorais empreende a Igreja local para chegar aos adeptos destes grupos ou religiões alternativas e anunciar o Evangelho às pessoas atraídas por este tipo de fenómenos? 3.6. Neste contexto, quais são as prioridades da Igreja local em matéria de formação dos próprios formadores e dos fiéis?”.

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