Comissão das Nações Unidas para os Direitos da Criança publicou recomendações que atacam posição da Igreja Católica sobre aborto, homossexualidade ou contraceção
Genebra, Suíça, 05 fev 2014 (Ecclesia) – A Comissão das Nações Unidas para os Direitos da Criança, que a 16 de janeiro ouviu uma delegação da Santa Sé, publicou hoje um conjunto de recomendações com críticas ao tratamento de abusos sexuais na Igreja Católica.
“O comité está profundamente preocupado pelo facto de a Santa Sé não ter reconhecido a extensão dos crimes cometidos, não ter tomado as medidas necessárias para lidar com os casos de abuso sexual e proteger as crianças e por ter adotado medidas e práticas que levaram à continuação dos abusos e à impunidade dos abusadores”, lê-se no relatório.
O texto aponta o dedo a um alegado “código de silêncio” sobre estes casos ou à prática de transferir párocos suspeitos de abusos.
Nesse sentido, sugere-se que os abusadores sejam “imediatamente removidos” das suas funções e denunciados às autoridades civis.
A sala de imprensa da Santa Sé emitiu um comunicado, após a publicação do relatório, anunciando que as observações serão “sujeitas a minucioso estudo e exame”.
“A Santa Sé reitera o seu compromisso na defesa e proteção dos direitos das crianças, em linha com os princípios promovidos pela Convenção para os Direitos da Criança e segundo os valores morais e religiosos oferecidos pela doutrina católica”, pode ler-se.
A Congregação para a Doutrina da Fé, organismo da Santa Sé, enviou em 2011 uma ‘Carta circular’ na qual se sublinhava a importância de cooperar com as “autoridades civis” e a “atenção prioritária às vítimas”, determinando que cada conferência episcopal criasse diretivas para lidar com eventuais abusos.
O observador da Santa Sé junto das instituições da ONU em Genebra, Suíça, que falou em janeiro perante a Comissão das Nações Unidas para os Direitos da Criança, disse hoje à Rádio Vaticano que recebeu o relatório conclusivo com “surpresa” e com a impressão de que o mesmo “”estaria já preparado antes do encontro com a delegação da Santa Sé, que deu respostas precisas e detalhadas sobre vários pontos”.
“A Igreja respondeu, reagiu e continua a fazê-lo. Temos de insistir nesta política de transparência, de não tolerância dos abusos”, declarou D. Silvano Tomasi.
O Vaticano anunciou em dezembro que o Papa Francisco decidiu instituir uma “comissão para a proteção das crianças”, que vai coordenar o combate e prevenção de abusos sexuais na Igreja Católica, decisão saudada pela ONU, que recomenda a inclusão de elementos da “sociedade civil” e das “organizações de vítimas”.
As resoluções sugerem várias mudanças no Direito Canónico em matérias ligadas aos abusos sexuais, mas também na questão do aborto.
O relatório vai além das questões ligadas aos direitos das crianças e critica as posições da Igreja em temas como a homossexualidade, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, a contraceção, levantando ainda a questão dos “filhos de padres” que considera serem abandonados.
Segundo o comunicado da Santa Sé, alguns pontos deste documento são “uma tentativa de interferir no ensinamento da Igreja Católica sobre a dignidade da pessoa humana e no exercício da liberdade religiosa”.
OC