Médio Oriente: «Situação na Cisjordânia está pior», alerta patriarca Latino de Jerusalém

Durante período de cessar-fogo em Gaza, mais estradas foram fechadas, tornando deslocações mais difíceis no território

Foto: ACN

Lisboa, 24 mar 2025 (Ecclesia) – O patriarca Latino de Jerusalém alertou para a situação atual que se vive na Cisjordânia, para a qual nem o cessar-fogo em Gaza ajudou a contribuir para melhorar o cenário no território.

“Sem dúvida, a situação na Cisjordânia está pior. Quando o cessar-fogo começou em Gaza, começaram as operações na Cisjordânia, com centenas de postos de controlo e operações em Jenin (uma importante cidade palestiniana)”, afirmou o cardeal Pierbattista Pizzaballa a uma delegação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) em Jerusalém.

O regresso dos bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza a 18 de março colocou fim ao cessar-fogo que se vivia há dois meses, durante os quais a Cisjordânia viveu um período conturbado.

“Honestamente? Para nós, na Cisjordânia, o cessar-fogo tornou a situação ainda pior”, disse o padre Louis Salman, responsável pela capelania pastoral dos jovens em toda a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém.

O sacerdote deu conta das restrições às deslocações que fazem com que as pessoas se sintam isoladas e encurraladas, a que se juntam a falta de oportunidades de emprego e a exposição constante à violência.

“Desde o cessar-fogo, fecharam ainda mais estradas, tornando as deslocações ainda mais difíceis. A estrada de Jifna para Zababdeh costumava demorar cerca de duas horas, agora demora quatro”, relatou.

O padre Louis explica que “por causa da troca de prisioneiros, a segurança foi reforçada”.

Sobre as operações no país, Sami El-Yousef, diretor executivo do Patriarcado Latino de Jerusalém, refere que se assistiu a “uma maior anexação de terras na Cisjordânia, bem como à expulsão de cerca de 16 mil pessoas dos campos de refugiados em Jenin, com as infraestruturas físicas a serem arrasadas, pelo que não têm para onde regressar”.

Segundo o responsável, “a Cisjordânia está agora completamente fragmentada, com 185 portões e mais de 900 postos de controlo, mas, devido ao que se tem passado em Gaza, nada disto recebe muita atenção internacional”.

“Não sei como é que ainda estamos de pé. A maré está contra nós”, expressou Sami El-Yousef, destacando no entanto a união entre cristãos.

“Como Igreja, sentimo-nos mais fortes do que há um ano e meio atrás, especificamente devido às nossas contribuições para a sociedade em geral. Conseguimos manter os nossos serviços, expandi-los em alguns pontos e servir as comunidades de Gaza e da Cisjordânia que foram mais afetadas pela guerra, e estamos a preparar-nos para sermos mais úteis depois da guerra”, adiantou.

Perante a preocupação com população de Gaza que estava a sofrer com a falta de produtos frescos, o patriarcado Latino de Jerusalém conseguiu assegurar o fornecimento de fruta e legumes a Gaza durante vários meses, e não apenas à pequena comunidade de cristãos que ainda vive nos complexos católicos e ortodoxos.

“Até hoje, as pessoas falam de como a Igreja as defendeu. De acordo com os desejos do Patriarca, estendemos a nossa generosidade aos nossos vizinhos. Estamos muito orgulhosos de ter feito o que fizemos durante este período”, indica Sami El-Yousef.

O diretor executivo do Patriarcado Latino salienta a ajuda prestada pela Fundação AIS para tornar ajuda possível: “O último ano e meio solidificou o que nós, cristãos, já sabíamos, que temos amigos em todo o mundo, que nos ajudam não só com dinheiro, mas também com apoio moral”.

À semelhança do ano passado, este ano, a Diocese de Setúbal destina parte da renúncia quaresmal às crianças afetadas pela guerra na Terra Santa, que motivou uma mensagem de agradecimento do cardeal Pierbattista Pizzaballa.

O patriarca Latino de Jerusalém destacou que a situação na área de Belém, que “é muito complicada, não só por causa dos contínuos confrontos entre colonos, o exército israelita e a população palestiniana, mas também por causa da falta de oportunidades de emprego”.

“A situação permanece muito difícil”, referiu ainda.

LJ/OC

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