Religiosa libanesa fala em cenário de «barbárie» que empurra milhões de pessoas para fora do seu lar
Lisboa, 19 nov 2014 (Ecclesia) – A religiosa libanesa Hanan Youssef disse hoje em Lisboa que o “silêncio” do Ocidente está a ajudar os extremistas do Médio Oriente que perseguem as populações, em particular as minorias cristãs, falando num cenário de “barbárie”.
“O silêncio mata-nos. É como se a pessoa já não tivesse valor, mas só contassem os interesses das grandes potências. Milhares de vidas acabam todos os dias, milhares de mulheres são vendidas nos mercados e temos este silêncio, esmagador”, referiu à Agência ECCLESIA a religiosa da congregação das Irmãs do Bom Pastor, que se encontra em Portugal a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
A irmã Hanan é responsável pelo Centro de Saúde de Santo António que se transformou, nos últimos tempos, num ponto de encontro para os refugiados oriundos da Síria e Iraque.
Segundo a religiosa, os problemas na região dizem respeito a todo o mundo, porque “o terrorismo pode estar em todo o lado, sem controlo”.
“O que se passa deixa-nos muito surpreendidos, pela atrocidade, pela barbárie a que regressamos”, confessa, a respeito dos jihadistas do ‘Daesh’, o autoproclamado ‘Estado Islâmico”.
“Imagine que um dia, ao amanhecer, lhe tiram tudo, todos bens, a vida, a cultura, a memória. Dizem-lhe que já não tem o direito de ali ficar. Em nome do quê?”, questiona.
Hanan Youssef confessa que não consegue “suportar”, como irmã do Bom Pastor, “a venda pública de mulheres, nos mercados, como se a vida humana já não tivesse valor”.
“Vendem-nas como se vende uma cadeira, uma mesa ou, desculpem a expressão, como se vende um animal. Como é que estas atrocidades podem acontecer e ninguém diz nada?”, alerta.
A religiosa mostra-se impressionada com todos os que partem “sem esperança, sem vontade de regressar” ao seu país, por causa de tudo o que sofreram.
“Na Síria, o que se passa é algo nunca visto. O conflito dura há mais de três anos e toda a população foge: para a Jordânia e a Turquia, com certeza, mas sobretudo para o Líbano, que tem as fronteiras abertas”, relata.
Até ao momento, o Líbano, com cerca de 4 milhões de habitantes, acolheu 2,5 milhões de refugiados sírios.
“É uma crise muito grave. Somos um pequeno país que sai de uma guerra fratricida, de muitos anos”, observa a irmã Hanan.
A chegada de refugiados provocou uma “crise social”, esgotando a capacidade de resposta dos hospitais e escolas.
“É uma situação catastrófica”, sustenta.
Em Beirute, a sua comunidade promove um “serviço de caridade” que não faz discriminação de credos, em favor dos “pobres”, porque a saúde, privatizada, é “muito cara”.
Duas mil pessoas por mês são atendidas em “contentores”, à beira da estrada, utilizados como dispensário.
“A procura é grande, a população passa necessidade. Acolhemo-los sem olhar a nacionalidades ou religiões”, precisa a irmã Hanan Youssef.
As religiosas apostam no apoio psicológico, porque “milhares de mulheres, de meninas foram violadas” e “milhares de pessoas foram obrigadas a deixar as suas casas, de noite, sem levar nada”.
A irmã apela à oração dos católicos ocidentais e em particular de Portugal, a que os libaneses estão ligados pela devoção a Santo António e a Nossa Senhora de Fátima.
“Vivemos numa situação de total insegurança, diante do silêncio das potências mundiais. O nosso único refúgio, a nossa única força é o Senhor. Nós temos necessidade da oração dos cristãos ocidentais”, confessa.
Com o apoio da AIS, a irmã Hanan Youssef vai dar o seu testemunho em Évora (21 de novembro), Almada (Santuário do Cristo Rei, dia 22), Braga (dia 25), Fátima (dia 26) e Lisboa (dia 27).
OC