Médio Oriente: Religiosa portuguesa na Síria alerta para situação de «fome» e «preços altíssimos»

Irmã Maria Lúcia Ferreira denuncia cenário que se vive atualmente no país, em que muitos só realizam uma refeição por dia

Foto: Fundação AIS

Lisboa, 09 jan 2024 (Ecclesia) – A irmã Maria Lúcia Ferreira, da Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia, a viver na Síria desde 2008, lamentou a situação em que o país se encontra, referindo que a comida só chega para uma refeição, o custo de vida não para de aumentar e a população enfrenta um inverno com temperaturas muito baixas.

“Vendo os preços altíssimos, nomeadamente da comida, de tudo, mesmo o [preço do] pão teve de subir, não admira nada que haja pessoas que só comem uma vez por dia. As pessoas guardam o que têm só para comer, nem roupa podem comprar…. Sim, pode-se dizer que estão a deixar o povo morrer à fome…. É verdade”, denunciou a religiosa portuguesa, mais conhecida por irmã Myri, em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

O país vive atualmente uma crise, desencadeada pela guerra que dura há 12 anos e às sanções económicas impostas ao regime de Bashar al-Assad, que estão a deixar a população sem alternativas.

De acordo com a Fundação pontifícia, as condições meteorológicas, nomeadamente as baixas temperaturas que se fazem sentir na região nesta época, são um dos problemas que acentuam a crise humanitária.

“O Inverno até tem sido menos rigoroso do que noutros anos, mas as pessoas têm menos eletricidade e têm menos ‘mazout’. Este ano, as pessoas estão a aquecer-se com lenha, mas tudo é caríssimo, caríssimo, caríssimo. Isso é o maior problema”, alerta a irmã Lúcia Ferreira, que reside no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara, perto da fronteira com o Líbano.

Foto: Fundação AIS

O “mazout” é um óleo para o aquecimento das casas a que as famílias recorrem para o aquecimento das casas, no entanto, dado o aumento dos preços, as famílias têm de optar por outras soluções.

O arcebispo de Homs, na Síria, já havia alertado para situação, na sequência da decisão da interrupção, decidida a partir de 1 de janeiro, da ajuda do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, por “ausência de fundos”.

“O povo sírio está condenado a morrer sem poder dizer nada”, afirmou.

D. Jacques Mourad assinalou o trabalho realizado pela Igreja e por organizações não-governamentais no apoio às populações nos últimos anos, mas salienta que “não podem cobrir todas as necessidades do povo sírio”.

“A sua capacidade de financiamento é limitada. Além disso, é impossível levar o dinheiro para a Síria devido às sanções impostas pelos Estados Unidos e pela ONU. Então, o que fazemos? Como pode o povo sírio viver? Muitas famílias sírias já comem uma vez por dia, apenas uma vez por dia”, indicou o arcebispo de Homs.

A AIS promoveu uma campanha de Natal centrada em ajudar mais de 27 mil crianças com a oferta de blusões para resistir ao inverno.

LJ/OC

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Agência ECCLESIA

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