Constitucionalista André Folque abordou em Fátima «a experiência do diálogo interconfessional»
Fátima, Santarém, 11 set 2014 (Ecclesia) – O constitucionalista André Folque considera que a violência que marca hoje países como o Iraque e a Síria nada tem a ver com religião, o que está em causa é a instrumentalização da fé em favor da tomada de poder.
“Esses grupos que infelizmente vão minando a paz, através do terrorismo e de uma ameaça constante, não podem ser identificados com a religião, eles é que procuram artificialmente fazer essa relação”, referiu o especialista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que esta quinta-feira participou em Fátima no 29.º Encontro de Pastoral Social.
Em declarações à Agência ECCLESIA, André Folque frisou que o “fanatismo religioso” tem sido permanentemente “aproveitado como uma bandeira” e deu como exemplo a guerra civil que há mais de 20 anos assolou a Bósnia Herzegovina.
Na altura, “os extremistas sérvios arvoravam-se em grandes defensores da ortodoxia”, no entanto, “um estudo feito sobre eles revelava que a prática religiosa que tinham era reduzidíssima”.
Portanto, “o aproveitamento do símbolo religioso como elemento unificador e de apelo e mobilização é muito forte”, aponta o constitucionalista.
O encontro nacional dos agentes de Pastoral Social, que termina hoje em Fátima, foi dedicado à “Dimensão social do anúncio do Evangelho” e particularmente aos “desafios” que têm sido lançados neste âmbito pelo Papa Francisco.
André Folque tomou parte num painel intitulado “O diálogo social como contribuição para a paz” e abordou a “experiência do diálogo interconfessional”.
Apesar do clima de terror e perseguição que marca atualmente a vida de muitas comunidades cristãs, devido à ameaça de grupos como o Estado Islâmico, aqueles que trabalham diariamente em prol das relações entre os diversos credos não devem “baixar os braços”, sublinhou o constitucionalista.
“Por cada muçulmano fanático ou por cada cristão fanático, que também os há muitos”, apontou aquele responsável, “há uma maioria de cristãos moderados e de homens de boa vontade. É com esses que é preciso dialogar”.
“Quem ler o Corão fica ciente de que o Islão é uma religião da paz e portanto é um erro grave considerarmos que, por trás de cada muçulmano não está um irmão, está o estereótipo de um Bin Laden um de um qualquer fanático”, complementou.
Sobre a mensagem que o Papa tem transmitido ao mundo, a propósito desta onda crescente de terrorismo associado à religião, André Folque destaca duas ideias fortes que marcam o seu discurso.
O facto de os cristãos estarem a enfrentar uma “perseguição” sem precedentes na era moderna, sobretudo “no Médio Oriente”.
E depois a constatação de que “essas perseguições não estão a ter a mesma presença na comunicação social que muitas outras situações de genocídio tiveram”, concluiu.
HM/JCP