Médio Oriente: De Gaza à Síria, os apelos aos Direitos Humanos da Amnistia Internacional, em sintonia com o Papa

Miguel Marujo considera que se está a «assistir a uma prática de genocídio» na Faixa de Gaza, após uma «investigação rigorosa e muito prolongada»

Ataque aéreo israelita no campo de refugiados de Al Maghazi, na Faixa de Gaza, a 14 de agosto de 2024
Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 02 jan 2025 (Ecclesia) – A Amnistia Internacional publicou um relatório no qual apresenta, como conclusão, que Israel está a cometer “genocídio” na guerra com o Hamas, na Faixa de Gaza, um alerta que responde às preocupações do Papa.

“Essa foi a conclusão da Amnistia Internacional. O Papa Francisco, curiosamente, uns dias antes dizia que há especialistas que indicam que estamos a assistir a uma prática de genocídio, que devíamos estar atentos. O Tribunal Internacional de Justiça também tinha feito essa advertência, logo no início do ano de 2024”, explicou o diretor de comunicação da Amnistia Internacional-Portugal, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O Papa apelou, no livro para o Jubileu 2025 ‘A esperança não desilude. Peregrinos para um mundo melhor’, a uma investigação internacional sobre a intervenção militar israelita em Gaza, desde outubro de 2023, a fim de determinar se está em causa um genocídio. 

Segundo Miguel Marujo, a Amnistia Internacional concluiu, “depois de uma investigação rigorosa e muito prolongada no tempo”, que se está a “assistir a uma prática de genocídio” que se consubstancia “em vários atos proibidos pela Convenção sobre o Genocídio”, que estabelece, por exemplo, que “não se deve matar com intenção de matar”.

“Basta ver aquilo que tem sido muitos dos ataques indiscriminados, sem pré-aviso, e as zonas civis densamente povoadas, pelo exército israelita, para perceber que há uma intenção de eliminar fisicamente o povo palestiniano na Faixa de Gaza. E é isto que a Amnistia concluiu num relatório que é extenso, tem quase 300 páginas”, acrescentou.

O diretor de comunicação da Amnistia Internacional – Portugal explica que “muitas pessoas” acharam que a organização tinha concluído isso “apenas por uma questão quase ideológica”, mas, sublinha, que a investigação realizada foi “longa, no terreno, com a análise de muitos vídeos, de muito daquilo que foi publicado e dito pelos responsáveis israelitas, também com testemunhas de sobreviventes de ataques”.

Neste sentido, para a Amnistia Internacional há um conjunto de fatores que “ajudaram a concluir por esta prática de genocídio que está a acontecer”.

Miguel Marujo recorda também que o Governo israelita “desdenhou desse relatório, limitando-se apenas ao insulto à Amnistia Internacional”, mas, muitos setores, assinalaram que “era importante um relatório como este” de uma organização de direitos humanos, que “tem o histórico que tem a Amnistia, para poder, num futuro, que estas práticas terminem”.

‘Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz’, é o título da mensagem do Papa para a 58.ª edição do Dia Mundial da Paz, que a Igreja Católica celebra no dia 1 de janeiro de 2025.

Francisco nesta mensagem para o Dia Mundial da Paz 2025 pede a eliminação da pena de morte, apela ao perdão da dívida externa e à utilização de uma percentagem fixa do dinheiro gasto em armamento para a criação de um fundo mundial que elimine definitivamente a fome.

Miguel Marujo destaca o exemplo da Síria, “com todos os últimos acontecimentos mais recentes”, e adianta que a Amnistia Internacional fez um apelo para que a justiça seja aplicada, mas, com as pessoas que “eram do regime ditatorial de Assad, essa justiça seja aplicada sem a aplicação da pena de morte”.

“Há para a Amnistia Internacional uma linha vermelha muito clara e essa é a prática da pena de morte”, realçou, no Programa ECCLESIA, transmitido esta quinta-feira, na RTP2.

A secretária-geral da Amnistia Internacional, destaca o entrevistado, afirmou, no mês de dezembro, que esta “é uma oportunidade histórica para a Síria dar a volta àquilo que foram décadas de terror e de ditadura”, mas é muito importante que a justiça que aplicada também com justiça, “e não parta para uma mera vingança”.

O diretor de comunicação da Amnistia Internacional – Portugal salienta que é importante que as novas autoridades na Síria “procurem estabelecer, até num quadro do direito internacional, novas estruturas” e que aproveitem “essa oportunidade histórica que é o fim do regime de Assad”.

PR/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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