«Estes dois povos, o povo de Israel, o povo palestiniano, devem poder viver em paz» – Pedro Vaz Patto

Lisboa, 03 jul 2025 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), condenou os “crimes de guerra” na Faixa de Gaza, é “uma das vozes da Igreja”, como a Cáritas Europa, e comissões de outros países.
“Agora, mais recentemente, e o comunicado da Cáritas Europa chama a atenção por esse facto, é a questão do auxílio humanitário, que é usado como arma de guerra, a fome como arma de guerra, que nós denunciamos”, assinalou Pedro Vaz Patto, esta quinta-feira, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O responsável católico lembra que o Papa Leão XIV também abordou esse aspeto, “não referiu explicitamente a situação em Gaza”, numa à FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, “que a fome não pode ser uma arma de guerra, é completamente contrário ao direito internacional e à ética”, e verificam isso no território palestiniano de Gaza.
A confederação internacional da Cáritas uniu-se a um apelo de 160 ONG para travar a atuação de Israel na Faixa de Gaza, e voltar aos mecanismos de coordenação existentes, liderados pela ONU, esta terça-feira; a CNJP, da Igreja Católica em Portugal, já tinha condenado os “crimes de guerra” na Faixa de Gaza, numa nota onde pediu a intervenção da comunidade internacional.
A nossa tomada de posição foi justificada por uma situação que se vem agravando, cada vez mais, e sentimos que não podemos ficar calados. Não temos mais meios do que este, senão a denúncia, um grito de indignação. Não somos a voz da Igreja, somos uma das vozes da Igreja, a Cáritas Europa também e outras Comissões de Justiça e Paz de outros países se manifestaram” – Pedro Vaz Patto
O presidente do organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa acrescenta que quiseram salientar que, às vezes, as análises são orientadas no sentido de que há “um determinado objetivo de combater o terrorismo”, por exemplo, um objetivo em si legítimo, “mas este objetivo não pode ser prosseguido de qualquer forma”.
“Não pode ser prosseguido à margem do direito e da ética. Uma ética de respeito pela pessoa humana, de respeito pela vida humana. E se, de facto, este conflito em Gaza teve início, não o ignoramos, não o esquecemos, como reação a um ataque que condenamos, um ataque bárbaro que atingiu cidadãos de Israel inocentes, esta reação já há muito deixou de ser justificada pela legítima defesa”, desenvolveu, sobre o dia 7 de outubro de 2023.
O entrevistado, juiz desembargador do Tribunal da Relação do Porto, assinala também que “não serve” a justificação, “da parte do Governo de Israel”, que os danos provocados na população civil são “consequências do Hamas recorrer aos chamados escudos humanos”, esse “é um procedimento reprovável do Hamas, é responsável por essas mortes”, mas o governo israelita “não deixa de ser também responsável quando se atingem hospitais, etc”.
Sobre os propósitos de eliminação e deportação coletiva da população residente no território palestiniano da Faixa de Gaza, Pedro Vaz Patto lembra que “foi o próprio Governo de Israel, na sequência de declarações do presidente norte-americano”, que daquilo que se poderia “chamar de limpeza étnica, retirar as pessoas que sempre viveram, que têm as suas raízes familiares nesta terra, e deportá-las para outros locais”.
“Nós continuamos a acreditar, e também é essa a posição das Nações Unidas, da Santa Sé, de que estes dois povos, o povo de Israel, o povo palestiniano, devem poder viver em paz, e cada um deles tem direito a um Estado.”
No Programa ECCLESIA, transmitido hoje, na RTP2, o juiz desembargador assinalou ainda que a União Europeia, concretamente, “vê-se acusada de usar dois pesos, e duas medidas”, é muito exigente, e na CNJP também consideram que é correto, “as posições contrárias à invasão da Ucrânia e as sanções que são impostas ao governo russo”, mas, em relação às políticas do governo de Israel, “não há a mesma firmeza, a mesma coerência”.
PR/CB/OC
Gaza: Cáritas une-se a denúncias de ONG contra violência de Israel sobre civis
Igreja/Portugal: Comissão Justiça e Paz condena «crimes de guerra» na Faixa de Gaza