D. Issam John Darwish lamenta indiferença de uma Europa «fechada em si mesma»
Lisboa, 07 nov 2014 (Ecclesia) – O arcebispo libanês D. Issam John Darwish disse à Agência ECCLESIA que a ameaça do ‘Daesh’ (autoproclamado ‘Estado Islâmico’) coloca em perigo cristãos e muçulmanos, lamentando a aparente indiferença da Europa.
“No Líbano, os cristãos e os muçulmanos têm medo do Daesh, da sua forma de pensar e de ver as coisas”, revelou.
O papel da Igreja, num momento em que os jihadistas estão às portas do país, nas montanhas do norte, é dar “esperança” de paz e de convivência inter-religiosa à população, precisa o arcebispo de Furzol, Zahle e Bekaa.
“Eles [Daesh] dão uma falsa reputação, uma ideia falsa ideia do Islão. No Líbano e na Síria sempre vivemos juntos e os muçulmanos protegeram os cristãos, por exemplo durante o Império Otomano”, assinalou.
O prelado foi um dos convidados para a apresentação do Relatório 2014 sobre a liberdade religiosa no mundo, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), e está em Portugal até domingo.
O documento revela que os cristãos são o grupo mais atingido pelas violações à liberdade de culto, em particular no Médio e Extremo Oriente, e que no período compreendido entre outubro de 2012 e julho deste ano a liberdade religiosa “entrou numa fase de declínio grave”.
D. Issam John Darwish, presidente de um Comité Episcopal para o Diálogo Islâmico-Cristão, denunciou a intenção de “expulsar” os cristãos dos países árabes, sustentada pelo autoproclamado ‘Estado Islâmico’.
“É um grande perigo, também para a Europa, porque nós percebemos melhor o mundo do Islão melhor do que os cristãos europeus. Se os cristãos do Médio Oriente deixarem a região, isso representará um grande perigo”, sublinhou.
Para o arcebispo greco-melquita, a Europa está “fechada em si mesma” e falha ao não “compreender a mentalidade árabe, a sua espiritualidade”.
“É preciso que confiem em nós [cristãos do Oriente], podemos ajudar a Europa a entender o mundo do Islão”, apelou.
D. Issam John Darwish refere mesmo que “a maior parte dos combatentes” na Síria chega da Europa e pede aos seus líderes que “parem de enviar armas” para as partes em conflito.
O responsável alerta para a situação de mais de um milhão e meio de refugiados, mais do que o Líbano pode acolher.
“Eles estão traumatizados, deixaram tudo nas suas casas e chegaram ao Líbano sem nada. A maior parte deles experimentou o sofrimento: dou-vos o exemplo de uma família que viu 20 elementos serem assassinados e que foi obrigada a fugir durante a noite, só de pijama”, relata.
Neste contexto, agradeceu a proximidade e a solidariedade que tem sido manifestada por diversas vezes pelo Papa Francisco, afirmando que este “já fez milagres” no Médio Oriente, ao apelar contra um bombardeamento norte-americano sobre a Síria.
“Cristãos e muçulmanos rezaram com o Papa, para que o seu apelo fosse ouvido pelos norte-americanos e as grandes potências”, referiu.
O arcebispo greco-melquita sublinha que o Líbano é um caso raro no contexto do Médio Oriente por ser “o único país árabe que tem um presidente cristão”.
As 18 comunidades religiosas que compõem a população libanesa têm uma “boa relação” e partilham valores como “a família, a democracia”.
OC