Docente da UCP tem investigado os impactos da inteligência artificial e sublinha papel da Igreja Católica na promoção de uma abordagem ética

Porto, 01 jun 2025 (Ecclesia) – O professor António Andrade, que tem investigado os impactos da inteligência artificial, considera necessário formar as novas gerações para um uso crítico da tecnologia, que os torne capazes de distinguir os conteúdos que recebem.
“Vai ser muito difícil distinguir o que é verdadeiro e falso, embora existem algoritmos em sentido contrário”, assinala o docente da UCP no Porto, convidado da entrevista semanal conjunta ECCLESIA/Renascença, por ocasião do Dia Mundial das Comunicações Sociais 2025.
O entrevistado destaca que a Igreja Católica “tem um papel e uma autoridade que é reconhecida pela sociedade em geral e que deve continuar a desenvolver, atenta estes novos fenómenos e desenvolvimentos”, no início do que denomina como “revolução”.
António Andrade saúda a “preocupação” que tem sido demonstrada por Leão XIV sobre estas matérias, desde o início do pontificado, apontando a uma sociedade “pós-trabalho”, com redução da carga laboral.
“Agora fala-se na semana de quatro dias, portanto mais tempo para a família, para o lazer, para a cultura, isso será positivo”, indica.
Há esses sinais contraditórios, mas estou em crer que, de facto, a redução dos postos de trabalho se fará sentir sobretudo em profissões que tenham menos empatia humana, digamos assim.”
Doutorado em Tecnologias e Sistemas de Informação, o especialista assume que a desinformação é um “perigo muito grande”, pedindo “cautela” no recurso à inteligência artificial.
“Se a inteligência artificial for um tutor, pode estar aqui um melhor estudante se não delegar na inteligência artificial as suas competências e a sua capacidade de autocrítica, as suas competências de trabalho. Se fizer uma transferência cognitiva fica a perder para sempre, mas é um risco que se corre, é uma certa preguiça”, observa.
António Andrade pede mudança na forma como se desenvolvem as aprendizagens e se fazem as avaliações.
“Ainda usamos muito a pedagogia da explicação e temos de ir para a pedagogia da emancipação”, afirma.
O docente da UCP admite que a inteligência artificial pode acentuar desigualdades e injustiças, entre países mais desenvolvidos e menos desenvolvidos, diante de avanços que podem criar inteligência artificial mais equiparada ao ser humano.
“O metaproblema deste século XXI será para onde é que as tecnologias nos levam”, defende.
O especialista insiste na necessidade de “preparar os jovens para o mundo com inteligência artificial”, em que vai ser cada vez mais comum a ameaça da “fraude personalizada”.
“Outra das ameaças pode ser no desenvolvimento da bioengenharia, que pode acelerar, sobretudo, em mundos onde há menos regulação”, acrescenta o docente universitário.
António Andrade realça que os dados são o “petróleo do século XXI” e estão “muito centralizados, nem sempre nos Estados, mas em grandes companhias que cada vez acumulam maiores fortunas e mais poder”, situação que qualifica como uma “ameaça muito grande”.
O entrevistado entende que as pessoas são “muito imediatistas no consumo da informação”, mas entende que é preciso “continuar a fazer esse esforço e essa educação”, relativamente à cedência de dados.
A Igreja Católica celebra hoje o Dia Mundial da Comunicações Sociais 2025, com a mensagem ‘Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações’, a última escrita pelo Papa Francisco para esta celebração.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)