Marques Mendes pede responsabilidade e ética na comunicação social, com mudanças na Entidade Reguladora do setor
Fátima, Santarém, 28 set 2012 (Ecclesia) – O antigo líder social-democrata Luís Marques Mendes disse hoje em Fátima que o panorama em torno da comunicação social é “particularmente sombrio” face à atual crise económica, com riscos para a liberdade e a democracia em Portugal.
“As ameaças à liberdade de imprensa virão menos das pressões políticas e mais das dependências económicas”, destacou o conselheiro de Estado, na conferência final das jornadas nacionais de comunicação social promovidas pela Igreja Católica.
Na intervenção, intitulada ‘Liberdade, responsabilidade, regulação’, Marques Mendes frisou que a crise “não desvalorizou a relevância da informação e do trabalho jornalístico, antes pelo contrário”.
O responsável pediu assim “um especial respeito” pelas exigências éticas no setor dos media: “O sensacionalismo, o populismo, o fait-divers, a falta de rigor não podem nem devem ser a regra dominante”.
Para o conselheiro de Estado, “trata-se sobretudo de defender a democracia e a sociedade dos riscos que neste momento a minam”.
“É fundamental que os media preservem a ponderação, o equilíbrio que está subjacente ao dever de informar”, observou.
Marques Mendes denunciou a “fragilidade” da regulação institucional em Portugal, com um “sério défice de autoridade” da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
“A questão é política, que decorre do modelo de composição da ERC favorecer muito o partidarismo” em vez de promover a presença de “senadores” dos media, referiu.
O ex-secretário de Estado da Comunicação Social destacou o atual “desafio de sobrevivência económica” num cenário em que é “inevitável” que haja encerramentos na área.
“O novo ciclo que se abre à comunicação social é muito semelhante ao que se coloca ao país”, prosseguiu.
Marques Mendes destacou ainda a “alteração profunda de paradigma” no mundo da comunicação, com o crescimento das redes sociais e da importância da internet.
“Os media são hoje já não o veículo, mas apenas mais um veículo ao serviço dos cidadãos”, declarou o conferencista, para quem é necessário vencer o “desafio da qualidade e da afirmação do direito à diferença”.
“É urgente reinventar a abordagem à agenda noticiosa”, acrescentou.
A intervenção teve como comentadores o sacerdote e jornalista António Rego (TVI), antigo diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS) da Igreja, e Eduardo Oliveira e Silva, do jornal ‘i’, com moderação do cónego João Aguiar, presidente do Conselho de Gerência da Renascença e diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja.
“Exploramos mal os nossos media”, disse o cónego António Rego, elogiando a abertura aos tempos de debate e comentário.
Eduardo Oliveira e Silva lamentou, por sua vez, a ausência de “autorregulação”, pedindo que as empresas inscrevam essa dimensão “nos seus livros de estilo”.
Esta jornada, dedicada ao tema ‘Silêncios e os silenciamentos’ nos media, inspira-se na mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais 2012 e decorre no Seminário do Verbo Divino, com a presença de cerca de centena e meia de participantes.
OC