Media: Jornalistas devem aprender o silêncio

D. Pio Alves critica «invenção irresponsável» e «calúnia descarada» nas redes sociais

Lisboa, 11 set 2012 (Ecclesia) – Os jornalistas devem aprender o valor do silêncio e resistir a quem os quer calar, considera o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, responsável pela ação da Igreja Católica nos media.

O “comunicador responsável” tem de “ganhar a batalha do silêncio e, no mínimo, sobreviver ao risco ou à ameaça dos silenciamentos”, porque se não o fizer “será apenas mais um náufrago no extenso oceano das palavras, das imagens e dos sons”, frisa D. Pio Alves em artigo publicado na edição de hoje do Semanário Agência ECCLESIA.

Depois de referir que “faltam autossilenciamentos” e “sobram silenciamentos”, o texto que integra o dossier dedicado às comunicações sociais salienta que a “facilidade do anonimato” nas redes sociais “impulsiona a mordacidade crítica, a invenção irresponsável, a calúnia descarada”.

“A progressiva alteração do paradigma comportamental, que privilegia o parecer na tentativa de esconder a penúria do ser, empurra para um demolidor nudismo informativo”, acrescenta o bispo, que também menciona as “enormes virtualidades” dos media.

O texto de D. Pio Alves apresenta as Jornadas Nacionais de Comunicação Social, dedicadas aos ‘silêncios e silenciamentos na comunicação social’, que a Igreja Católica organiza em Fátima a 27 e 28 de setembro.

As conferências do encontro vai centrar-se no silêncio enquanto “necessário ao comunicador” mas que naquele que lhe é imposto, explica o prelado, realçando que “na aparente incompatibilidade entre silêncio e comunicação esconde-se muito do que esta tem de essencial”.

Para o padre Rui Osório, jornalista e pároco da Diocese do Porto, “a fecundidade do silêncio é tão densamente espiritual que dificilmente penetrará na lógica mediática do diálogo social tecnológico”.

“Nem a legislação portuguesa sobre a Comunicação Social, nem o Código Deontológico aconselham, sequer implicitamente, a metodologia do silêncio para temperar as virtudes e os defeitos” dos media e das redes sociais”, sublinha.

O sacerdote constata que “os jornalistas não sabem o que perdem quando perdem a sabedoria do silêncio”: “ficam, ética e culturalmente, desprotegidos, por défice de discernimento crítico do que são e do que fazem ou deveriam fazer”.

O padre José Tolentino Mendonça, que assina o editorial, sustenta que “a comunicação massificada e omnipresente” negligencia “a palavra e a interioridade”.

“Precisamos de contrariar este movimento de demissão, reencontrando uma arte de pensar; recuperando uma atenção mais crítica em relação ao que nos é servido a toda a hora; construindo espaços de distanciamento favoráveis ao silêncio e à reflexão”, escreve o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

A “falsa noção de transparência, onde tudo é dito e mostrado” que caracteriza a atual “cultura de hipercomunicação”, deve dar lugar a uma “escuta que não aceita ficar comodamente à superfície, mas assume, como tarefa, a interrogação humilde pela verdade”, aponta.

“Não é o silêncio a manifestação de um indizível?”, questiona por seu lado o padre José Paulo Machado, da Diocese de Angra, que reflete sobre as transmissões da missa na televisão.

RJM

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