Nelson Ribeiro aborda os efeitos da evolução tecnológica na comunicação a dias das Jornadas Nacionais de Comunicação Social, em Coimbra
Lisboa, 22 set 2025 (Ecclesia) – O vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Nelson Ribeiro, considera que o jornalismo adquiriu, na sociedade atual, um papel diferente, que se concentra em atrair a atenção do público para a informação com relação com a realidade.
“Creio que o jornalismo hoje em dia, a sua principal função não é necessariamente fazer-nos chegar a informação”, mas entre toda “a informação que existe”, destacar o que “efetivamente é relevante e, daquilo que efetivamente é relevante, o que é que realmente tem uma relação com a realidade”, apontou o docente universitário.
Em entrevista ao programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2, a propósito das Jornadas Nacionais de Comunicação Social, que decorrem nos dias 25 e 26 de setembro, no Seminário de Coimbra, o docente da UCP constata que “muita da informação que circula hoje em dia, até muito alimentada por bots, é informação que não é verídica”.
“Esse trabalho de seleção e de chamar a nossa atenção para aquilo que é real e para aquilo que vale a pena nós focarmos a nossa atenção, para mim esse é o verdadeiro papel do jornalismo”, reforçou.
Investigador na área dos media, Nelson Ribeiro defende que esta função não é redutora da profissão, salientando-a como aquilo que é “importante” para a sociedade atualmente.
Apesar de haver “pessoas das novas gerações muito interessadas” em perseguir este género do jornalismo, “a sociedade no seu todo ainda não arranjou mecanismos de financiar esta atividade”, lamentou.
“O jornalismo continua a ser financiado tendencialmente através de um modelo que foi criado no final do século XIX, […] através de anunciantes que pagavam para conseguirem chegar aos consumidores, porque não tinham outros meios de chegar a eles. Hoje em dia, as marcas não precisam do jornalismo para chegar aos consumidores”, referiu o professor da UCP.
A Igreja Católica não deve ser alheia ao tema da verdade, entende Nelson Ribeiro, sobretudo por ter a “capacidade de chegar a muitas pessoas jovens, com as quais é muito importante haver este tipo de conversa e de debate”.
É preciso nós garantirmos que não estamos a formar novas gerações de cidadãos que acabam por criar uma perceção do mundo baseada num virtual que não tem correspondência com o real”, frisou.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o vice-reitor da UCP enfatizou que, “no mundo virtual, as pessoas na verdade não mostram a sua vida real, constroem uma representação daquilo que querem que os outros vejam”.
“Há muito este fenómeno de voyeurismo que cria, sobretudo nos mais jovens, esta ideia de que a sua vida é sempre menos interessante do que aquela que os outros têm, tal como a representam no ambiente virtual”, exemplificou.
“Comunicar sem corantes nem conservantes” é o tema das Jornadas Nacionais de Comunicação Social, partindo das intervenções do Papa Leão XIV e da última mensagem do Papa Francisco, para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, abordando os desafios do digital e o valor do humano, na área dos media.
“É de facto difícil, hoje em dia, nós conseguirmos ter um escrutínio sobre a autenticidade da informação que nos está a chegar”, destacou.
Após a sessão de abertura, a reflexão das jornadas é apresentada num colóquio entre Clara Almeida Santos e o padre Paulo Duarte, em torno do tema “Ser, parecer ou aparecer: fronteiras na comunicação”.
“Para determinadas pessoas, hoje em dia, digamos que não aparecer nestas redes é como não existir”, observou o professor, realçando as implicações que tal provoca nos mais novos.
“Porque eles sentem muito esta pressão para aparecer, mas também para aparecer de uma forma que vá mimetizar os exemplos daquilo que veem online”, indicou.
Sobre a forma como a Inteligência Artificial está cada vez mais presente no quotidiano de cada um e como direciona a informação, Nelson Ribeiro defende que deveria ser exigida “uma transparência por parte das plataformas em relação aos algoritmos que estão a utilizar”, algo que “dificilmente” nos próximos tempos vai acontecer.
As informações e a inscrição nas Jornadas Nacionais de Comunicação Social encontram-se na página da internet criada para o efeito, onde se encontram também indicações sobre refeições e alojamento.
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