Media: Falta debater a qualidade do «serviço público que o país precisa e pode ter», diz Eduardo Cintra Torres

Docente lamenta que a reflexão à volta do futuro da RTP esteja demasiado concentrada na escolha do operador e sugere um modelo a implementar

Lisboa, 11 set 2012 (Ecclesia) – O professor Eduardo Cintra Torres defende que o futuro do serviço público de televisão e rádio em Portugal está a girar excessivamente em torno da escolha do operador e pouco à volta da qualidade do serviço.

“Quase todos dizem que ninguém sabe o que é ou que toda a gente sabe o que é, sem verdadeiramente se indicar o serviço público que o país precisa e pode ter”, aponta o docente da Universidade Católica, especialista em matérias como televisão e ética da comunicação, na edição desta terça-feira do Semanário ECCLESIA.

De acordo com o investigador, “serviço público de TV e rádio é aquele que possa ser propiciado pelo Estado sem alternativa no resto da sociedade organizada”.

A partir desta premissa, ficam excluídos “todos os conteúdos apresentados por um operador de serviço público que sejam idênticos ou até concorrenciais com os que o mercado já ofereça”.

Em “termos institucionais”, acrescenta Eduardo Cintra Torres, o operador deve ter ainda a “humildade” de reconhecer que os seus conteúdos não podem “conquistar todos ao mesmo tempo”.

Podem isso sim “influenciar todos pela sua existência, mesmo que não os vejam ou ouçam, pelo seu poder intrínseco”, salienta.

Assim sendo, o professor propõe que a reflexão que envolve neste momento membros do Governo e responsáveis dos media, sobre a reformulação da RTP1, a manutenção ou não da RTP2 e dos serviços de rádio associados, se reja por “um único e obsessivo principio: a criação de conteúdos de interesse público”.

Apresenta depois aquele que considera como “o modelo adequado” a implementar, “tendo em conta as circunstâncias institucionais, constitucionais, sociais e políticas” do país.

A RTP deverá ser transformada numa “empresa ágil, eficaz, despartidarizada, sem influência dos órgãos políticos”.

Ao mesmo tempo é preciso “reestruturar” toda a empresa, “acabando com inúmeras direções-gerais inúteis (resultado da partidarização), moralizando vencimentos exagerados”, sustenta Eduardo Cintra Torres.

O “fim da publicidade” é outra medida a considerar, “por contaminar os conteúdos e por fazer concorrência desleal com os privados”.

“Pagamos a RTP com os nossos impostos e ainda é preciso publicidade para estragar programas e acabar por piorar os programas dos privados?”, questiona o investigador, que sugere ainda a concentração dos conteúdos num único canal de TV, colocando o outro em pousio”.

Ao nível da programação, aquele responsável reivindica a “abertura da antena à sociedade civil” e a criação de programas que fomentem o debate social sobre “temas atuais ou históricos”.

O crítico de televisão propõe ainda a criação de conteúdos que possam ser recuperados e vistos pelos telespetadores, “através das boxes digitais ou da internet”.

JCP

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