No dia em que a Igreja celebra São Pedro, Carlos Cruz destaca dificuldades dos pescadores e relação particular com a fé

Porto, 29 jun 2025 (Ecclesia) – O presidente da Apropesca – Organização de Produtores de Pesca Artesanal assumiu que o setor depende hoje, em Portugal, da mão de obra estrangeira, pedindo ajuda do Governo para superar as dificuldades que têm surgido.
“Se não fosse esta mão de obra indonésia, as nossas embarcações, a maioria das embarcações, estavam paradas, e isso não era bom para a pesca”, refere Carlos Cruz, entrevistado da Agência ECCLESIA e Renascença, no dia em que se celebra São Pedro, padroeiro dos pescadores.
O responsável aponta problemas com as “cotas” impostas aos pescadores e a falta de mão de obra em Portugal, que levou à necessidade de “recorrer aos estrangeiros.
“Um dia que isto falhe, que haja alguém que trave isto, nós estamos mesmo condenados. Aí acaba a pesca, mas é por falta de mão de obra, não por falta de peixe”, observou.
O presidente da Apropesca assume que as novas gerações têm pouca apetência para a faina e diz que em muitas embarcações há mais “indonésios do que os portugueses”, o que representam uma infração perante o atual quadro legal.
“Não há forma de a cumprirmos: se hoje houver fiscalização, amanhã está o setor todo parado, não há volta a dar”, refere.
Questionado sobre as mudanças nas leis da imigração, o responsável mostra-se preocupado e diz que o setor da pesca pode estar “condenado”.
“Nós temos um problema e temos de o resolver. Ponto final”, apela.
Carlos Cruz elogia os imigrantes indonésios, que “sabem trabalhar”, defendo o reconhecimento da sua cédula.
“Nós não temos pescadores. Não temos pescadores portugueses para andar no mar. E o problema é mesmo reconhecer, fazer o reconhecimento da cédula”, precisa.
O entrevistado rejeita a ideia que associação as comunidades piscatórias à pobreza.
“Estamos bem, estamos estáveis. Vamos para o mar, ganhamos dinheiro. Não vamos dizer que estamos aqui a passar a fome”, indica.
Para o presidente da Apropesca há uma relação especial entre as gentes do mar e a fé, particularmente celebrada nas festas de São João e São Pedro.
“Vivemos muito os Santos Populares, a pesca vive muito bem os Santos Populares”, afirma.
Carlos Cruz realça que esta é uma dimensão presente em toda a vida dos pescadores.
“Toda a embarcação que largue a primeira arte ao mar, as palavras que saem sempre da boca de um pescador, é sempre: ‘vai na hora de Deus’. E quando é para recolher a rede, usa sempre essa palavra na primeira entrada do peixe, pode entrar a primeira rede, mas se não vê a peixe, não usa esta palavra, entrando primeiro o peixe, diz: ‘louvado seja nosso Senhor, Jesus Cristo. Obrigado, meu Deus’, sempre, estas palavras”, relata.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)