Cineasta português vai estar diante de Bento XVI no encontro com o mundo da cultura e abordará questão da fé e das artes
Manoel de Oliveira já escreveu o discurso que vai dirigir a Bento XVI no próximo dia 12 de Maio, no Centro Cultural de Belém, no qual aborda a questão “da fé e das artes”.
O cineasta português foi a personalidade escolhida para falar ao Papa em nome dos agentes da cultura, num encontro em que também intervem o próprio Bento XVI, para além de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto e presidente da Comissão episcopal responsável por esta área.
Manoel de Oliveira não entende este discurso como um “prémio”, mas reconhece que ficou “surpreendido” com o convite que lhe foi dirigido.
A poucos meses de completar 102 anos de idade, o realizador já foi galardoado em vários pontos do globo pela sua obra na Sétima Arte. Ainda assim, a sua paixão e vocação pelo cinema “continua bem viva e vai-se confirmando”, como disse à Agência ECCLESIA.
Estes mais de cem prémios são sinónimos de reconhecimento. Perdeu-lhes a conta, mas recorda aquele que recebeu de João Paulo II.
“Foi um Papa excepcional”, afirma.
Manoel de Oliveira compara o percurso dos dois últimos Papas: “Este (Bento XVI, ndr) é talvez mais culto, o outro tinha um sentido religioso e humano notável”. João Paulo II “até pediu perdão pelos erros cometidos pelo catolicismo”, acrescenta.
Depois de afirmar que “Deus é único”, o cineasta deixa lugar à dúvida: “Se é que existe”. “Já S. Paulo o fazia, quando disse: «Se Cristo não ressuscitou, toda a nossa fé é vã»”, justifica.
A inquietação religiosa “é permanente” e a “dúvida é presente”, todavia é contrabalançada “com a própria fé”, afirmou Manoel de Oliveira.
Para o cineasta, tanto “é inquietante aceitar a existência de Deus como negá-la”.
No diálogo com Deus “nunca ouvimos a voz” dele, mas “através dos apóstolos” e “dos homens que dizem que Deus disse”.
Apesar desta dúvida instalada, Manoel de Oliveira reconhece que “alguma coisa há que justifique todo este Cosmos e Universo” porque “ninguém nasceu por vontade própria”. Como somos criaturas, logo “haverá um Criador”.
Foi formado no seio de uma família católica e estudou num colégio dos Jesuítas, em Espanha. “Com dúvida ou sem ela, o aspecto religioso acompanhou-me sempre”, confessou.
“Todos os meus filmes são religiosos”, diz ainda.
Com dezenas de obras realizadas, o cineasta escusou-se a referir que filmes gostaria de aconselhar ao Papa.
“Quem sou eu para aconselhar Bento XVI?”, respondeu o decano do cinema mundial.
A respeito deste encontro, o padre e poeta Tolentino Mendonça – director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura – afirma que o Papa saberá que “quem lhe fala é um dos grandes criadores dessa extraordinária arte que é o cinema”.
No editorial da Agência ECCLESIA, o sacerdote madeirense assinala que, para Bento XVI, os grandes artistas são “mestres de humanidade e luzeiros que iluminam a procura de Deus”.