Programa comemorativo religioso e cultural decorre até domingo, incluindo oferta de imagem da padroeira de Portugal aos luso-descendentes
Lisboa, 29 out 2011 (Ecclesia) – A comunidade de luso-descendentes de Malaca, na Malásia, assinala até domingo os 500 anos da chegada e instalação dos portugueses à cidade do sudeste asiático com um programa religioso e cultural.
O que se celebra “é sobretudo a tomada de poder de Afonso de Albuquerque” (1453-1515), governador da Índia portuguesa, que “à terceira tentativa conseguiu consolidar a presença portuguesa”, explicou à Agência ECCLESIA Coelho da Silva, antigo diretor dos Serviços de Educação de Macau nos anos 80, quando prestou apoio à comunidade.
O número de luso-descendentes na região é estimado em oito mil: “São uns milhares, não se sabe ao certo a quantidade, até porque tem diásporas em Singapura [cidade-estado 200 km a sul de Malaca] e em Kuala-Lumpur”, capital da Malásia, 150 km a noroeste, refere Coelho da Silva.
A Malásia é um “estado confessional muçulmano que respeitou até hoje a pequena comunidade de gente ligada ao mar que falam o papiar cristão”, acrescentou o responsável, atualmente ligado ao ensino politécnico e que continua a interessar-se pelo legado português em Malaca.
As tradições cristãs permanecem vivas: “Continuam a rezar e cantar em português, celebrando os santos populares, São João e sobretudo São Pedro”, além das principais festas do calendário litúrgico, salienta o professor, que também destaca a curiosidade com que a comunidade é olhada.
“Vivem muito do turismo porque são vistos como um reduto de resistentes” que se manifestam através “da gastronomia, dos fados e canções populares que aprenderam de ouvido”, diz Coelho da Silva, que aponta sinais e causas do declínio gradual da influência cristã e portuguesa.
A herança cultural está a “esbater-se, como é natural”: “os jovens fazem o aprendizado em inglês, saem de Malaca e dificilmente voltam ao bairro”, tendência que se acentuou com a saída, em fevereiro, do leitor de português ao serviço do Instituto Camões, dificultando a aprendizagem da língua sobretudo pelos mais novos, assinala o docente.
Muito antes, há quase 30 anos, o padre que celebrava missa em português saiu da cidade, o que significou “uma perda” para a comunidade: “O padre indiano que lá está já não é a mesma coisa, dizem eles. Parece não ser a mesma religião. Porque para eles a religião também era um pouco de Portugal”.
De Lisboa para uma viagem de 16 mil km partiu o diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, que além de participar nas missas previstas no programa comemorativo apoiado pelas autoridades de Malaca, vai entregar à comunidade uma imagem da padroeira de Portugal, Nossa Senhora da Conceição.
“O impacto de os lusos-descendentes terem um padre português a celebrar missa em português vai ser de tal ordem que estou convencido de que o cónego António Rego não vai ter um minuto de descanso”, sublinha Coelho da Silva.
“Além desta romagem de saudade há também a vertente de ajudar à formação das lideranças daquela comunidade, porque até agora vão para outras cidades à procura de emprego e saem do seu bairro. Pretendemos criar lideranças com formação superior que possam ter orgulho na sua herança religiosa e cultural”, refere.
A atual Melaka, que ficou na posse de Portugal desde 1511 até à conquista pelos holandeses, em 1641, era um porto estratégico por se encontrar na rota das especiarias, servindo também de entreposto comercial e ponto de encontro de povos e culturas, legado que levou a UNESCO a declará-la Património da Humanidade.
RJM