Bispos de Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia temem agravamento da relação entre cristãos e muçulmanos
Lisboa, 29 Mar (Ecclesia) – Os conflitos em países do Magrebe revelam aspirações legítimas de liberdade, consideram os bispos de Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia, que apelaram ao fim das hostilidades através de uma solução justa e digna.
Os prelados expressam a sua união aos habitantes da Líbia, em especial de Tripoli e Bengasi, cidades atingidas por confrontos entre tropas governamentais, rebeldes e uma coligação internacional, refere um comunicado do arcebispo de Rabat (Marrocos) e presidente da Conferência Episcopal da região do Norte de África, Vincent Landel.
A procura de trabalho que assegure condições de sobrevivência dignas e a rejeição da corrupção e clientelismo são alguns dos anseios da população presentes no texto divulgado esta segunda-feira no site da arquidiocese de Rabat.
Além de causar baixas, os bispos recordam que a guerra está a fomentar a fuga da população para outros países: “Alguns não hesitam em passar as fronteiras terrestres ou marítimas, com o risco da sua vida e de não serem acolhidos”.
“Mas outros, os ‘pobres dos pobres’, não tendo sequer este recurso [emigração] devido à sua pobreza extrema, são obrigados a suportar os acontecimentos sem nenhuma possibilidade de se defender”, assinala o documento.
O conflito ameaça também o diálogo inter-religioso: “Quer queiramos quer não, a guerra no Médio Oriente, e agora no Magrebe, será sempre reassumida como uma ‘cruzada’”, o que “inevitavelmente” tem consequências “nas relações de convivialidade que Cristãos e Muçulmanos teceram e continuam a tecer diariamente”.
Referindo-se à situação na Líbia, os prelados apelam à ajuda humanitária e à mediação diplomática: “Sentar-se a uma mesma mesa não será o único caminho conjunto para poder tornar a entrelaçar os laços que foram rasgados e recompor um tecido social que exclui a vingança e o ódio?”, questionam.
O Papa apelou este domingo a um cessar-fogo no país, convidando os organismos internacionais e os responsáveis políticos e militares a um “começo imediato de um diálogo que suspenda o uso das armas”.
A Santa Sé participa hoje, como observadora, na reunião do grupo de contacto político sobre a operação militar na Líbia que decorre em Londres, depois da aprovação na ONU de uma resolução para proteger civis de ataques das forças armadas líbias.
De acordo com o ministério dos Negócios Estrangeiros britânico, que organiza a cimeira, o regime de Muammar Kadhafi “perdeu completamente a legitimidade” e os rebeldes são agora “parceiros políticos legítimos”.
Uma das propostas em discussão é a criação de um “grupo amplo” que, além da assistência humanitária, planeie o apoio a longo prazo ao país, preparando uma eventual transição política.
A representação portuguesa na reunião, assegurada pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, e pelo embaixador junto da NATO, João Mira Gomes, junta-se às delegações de pelo menos 35 países.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, o presidente da União Africana, Jean Ping, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, e a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, são algumas das personalidades esperadas no encontro.
Dos cerca de 6,5 milhões de habitantes da Líbia, mais de 95% são muçulmanos sunitas.
RM