«Levamos sempre tudo ao tempo deles, fazemos com eles e não por eles» – Dina Pereira, diretora técnica
Ribeira Brava, Madeira, 16 mai 2022 (Ecclesia) – Dina Pereira, diretora técnica da Unidade de Alzheimer do Centro Social e Paroquial de São Bento da Ribeira Brava, na Diocese do Funchal, disse à Agência ECCLESIA que a unidade “dá resposta a uma necessidade da comunidade” e que o horário alargado ajuda as famílias.
“A parte do dia em que o utente passa cá é uma ajuda, os familiares sabem que estão bem entregues, com segurança e estão a ser estimulados para não deixar avançar a demência; somos procurados também por ter horário alargado e proporcionar a higiene e jantar cá”, explica a responsável à Agência ECCLESIA.
A primeira unidade de Alzheimer, inaugurada em setembro passado, tem uma mais valia para as famílias, com o horário alargado, das “8h00 às 21h00”, sendo uma mais valia para as famílias.
Para Dina Pereira este tempo tem sido de “grande aprendizagem para todos”, onde a “empatia e a calma” têm de ser base da compreensão para lidar com a problemática.
“Há uma preocupação da estimulação, e toda a equipa técnica também se baseia, no que eles ainda são capazes de fazer que o façam, por isso temos de ter um rácio de pessoal maior porque levamos sempre tudo ao tempo deles, fazemos com eles e não por eles”, destaca.
Segundo a diretora técnica a equipa é composta por 32 profissionais, a quem dão formação na área, que acompanham 18 utentes em regime internamento e 45 utentes em regime de dia.
Já verificamos, mesmo nos utentes com grau de demência mais avançado, que permanece a espiritualidade, há algo que faz recordar a religião, o que possa proporcionar bem-estar, seja musicoterapia, aromaterapia, o q invoca a calma, mesmo com a religião, por exemplo, pode acontecer de um utente que já não verbaliza mas, de repente, começa a cantar, porque era um cântico religioso que teve significado na sua vida”.
Dina Pereira salienta que tem havido “muita procura” da Unidade porque as famílias “estavam aflitas para dar respostas de apoio a estes familiares”, havendo mesmo pessoas que vêm de longe e aponta a necessidade de “ser replicado este projeto noutros pontos da ilha”.
Também o padre Bernardino Trindade, pároco da Ribeira Brava, recorda a “necessidade sentida ao longo dos tempos” por acolherem utentes com demências no centro social e “nem sempre ser fácil”.
“Devido a esta presença destabilizava o dia dia do lar e foi surgindo a necessidade de algo novo e de resposta à comunidade, havia este edifício antigo, de uma das grandes padarias da zona oeste, adquirimos o terreno e prédio abandonado e, com fundos europeus e da própria instituição para concretizar este projeto”, lembra.
O sacerdote sabe das “dificuldades e agonia que as famílias vivem” e que, perante “esta nova problemática” a paróquia teve de pensar neste “projeto inovador”.
“Penso que são poucas as paróquias que não têm a problemas de Alzheimer nas famílias e temos de dar esta atenção”, aponta.
Para Maria Carlos Leitão, da assessoria técnica do Centro Social e Paroquial de São Bento da Ribeira Brava, a nova unidade foi criada para “proporcionar qualidade de vida, internamento e regime de dia e apoiar as famílias destes doentes, uma vez que a problemática é exaustiva”.
“Queremos uma resposta individualizada e distinta do que se faz normalmente noutras estruturas, este é um projeto pioneiro e também estamos a aprender com a nossa intervenção”, explica.
A responsável define como “inovadora” a resposta na abertura da unidade de segunda a sábado, das 08h00 às 21h00 para proporcionar às famílias “conciliar a vida profissional e familiar com a presença de um doente de Alzheimer”.
Penso que haja este impacto na comunidade mas o ideal é que para as famílias esta unidade tivesse mais capacidade, internamentos temos 18 camas e não é resposta suficiente, mas é a primeira e, de certeza, que vai haver outras respostas e penso que será uma mais valia para toda a região”.
Maria Carlos descreve ainda a formação necessária dada aos profissionais e a preparação do futuro.
“Despertamos para a probabilidade de poder desenvolver a doença, há essa possibilidade e aqui percebermos como é a doença e podemos preparar o nosso futuro, que deve ser preparado… Depois é no dia a dia cansativo e extremamente exigente para os profissionais que aqui estão a trabalhar, estar sete a oito horas por dia a lidar com pessoas com este perfil é complicado, nota-se a exaustão nos colaboradores”, conta.
PR/SN