Tema em debate no último dia do Congresso que assinala os 500 anos da Diocese
Funchal, Madeira, 20 set 2014 (Ecclesia) – A celebração dos 500 anos de história da Diocese do Funchal sublinhou a importância do património cultural material e imaterial que nasceu inspirado na fé católica.
João Henriques, diretor regional dos Assuntos Culturais, estima que 70 por cento do património da Madeira seja de caráter religioso, “na sua essência ligada às comunidades cristãs, paróquias e diocese”.
A riqueza gerada pelos ciclos económicos da Ilha foi construindo o esplendor da arte religiosa da Madeira patente nas inúmeras igrejas e capelas, que vão pontuando a paisagem madeirense e na beleza das coleções de pintura, escultura ou ourivesaria.
O Museu de Arte Sacra do Funchal é disso exemplo, como explica a sua diretora, Luiza Clode.
“O Museu de Arte Sacra do Funchal é muito importante no contexto madeirense e também no contexto nacional. Prima pela qualidade das suas peças, em especial a grande coleção de pintura e escultura flamenga”, recorda.
Da grandeza das telas flamengas ao trabalho minucioso da ourivesaria, inúmeros objetos de culto e devoção atestam a riqueza da Igreja madeirense.
Por entre capelas e igrejas descobrem-se autenticas obras de arte que a exposição temporária ‘Madeira: do Atlântico aos confins da Terra’ quis dar a conhecer, no âmbito da celebração dos 500 anos da Diocese, patente ao público até finais de outubro.
Luiza Clode revela que foi feita uma “inventariação pelas paróquias”, num processo de seleção “muito difícil” dada a qualidade de muitas peças ou, noutros casos, pela necessidade de fazer uma intervenção profunda de restauro.
O recém-restaurado retábulo de Sé apresenta, segundo o historiador Rui Carita, elementos inéditos, como o facto de o cadeiral e o coro se manterem no local original, antes das alterações do Concílio de Trento.
“A peça mais notável que a Madeira tem é o teto mudéjar, o maior teto alguma vez montado em Portugal que tenha chegado até nós”, acrescenta.
Nos últimos anos, tanto no restauro e na salvaguarda, como na edificação do novo património a cooperação Igreja/Estado tem sido uma constante.
João Henriques precisa que o património é da Igreja e foi construído “num contexto religioso e pela inspiração da fé”, mas o Estado “tem, pela sua natureza e responsabilidade política, o dever de salvaguarda desse património de preservação e restauro para o futuro”.
O património, prossegue, “tem a ver com a vida de uma comunidade, com as suas raízes, com as sua histórias”, por isso “salvaguardar e dar a ver, dignificar esse património é cumprir um dever de memória e identidade”. O serviço aos fiéis e à população em geral é a palavra de ordem.
João Cunha Paredes é responsável, nos últimos anos, pela criação de inúmeros templos madeirenses.
Estabelecer pontes entre o passado e o presente é a prioridade deste arquiteto, procurando “pegar nos modelos tradicionais da arquitetura madeirense” e “estudar dentro da diáspora os resultados dessa arquitetura religiosa pelo mundo inteiro”.
Estas temáticas vão estar em destaque na próxima emissão do programa ‘70×7’ (domingo, 11h30, na RTP2), que resulta de uma colaboração entre o Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL) e a ECCLESIA.
CLEPUL/OC