Madeira: História do arquipélago é uma história religiosa

Especialistas sublinham importância de diocese com 500 anos

Lisboa, 16 set 2014 (Ecclesia) – A história da Madeira está unida à sua história religiosa e a celebração dos 500 anos da Diocese do Funchal, segundo vários especialistas, deve promover uma análise profunda a esta ligação.

A historiadora Cristina Trindade sustenta que “a história religiosa é a história da Madeira, desde o primeiro ato oficial que fazem os primeiros descobridores ou redescobridores”, lembrando que “as armadas portuguesas, os barcos portugueses não navegavam sem elementos do clero”.

O professor universitário Nelson Veríssimo recorda que a Igreja está presente “desde o início do povoamento da ilha”, mesmo “omnipresente” no quotidiano do arquipélago, sobretudo até ao século XIX, em áreas como o ensino, a saúde, ou a promoção social.

“Os 500 anos da diocese representam progresso, promoção social, solidariedade entre as comunidades e esses valores são sempre de lembrar”, acrescenta.

O historiador José Eduardo Franco sublinha que a Madeira “foi fundadora de uma Igreja nova, estruturada” e que a Diocese do Funchal foi “potenciador” de um processo de “protoglobalização” que se encontrava no seu início, quer nas relações económicas e culturais entre os vários continentes, quer no “processo de verdadeira universalização do Cristianismo”.

Para Alberto Vieira, diretor do Centro de Estudos de História do Atlântico, a Madeira acaba por ser “o centro fora da Europa” onde se começa a gerar “uma nova sociedade, que vai ter uma nova estrutura política e também religiosa”.

O facto de ter sido a primeira ilha ocupada no espaço atlântico “projetou-a para uma posição chave em termos de todo um projeto de expansão portuguesa e europeia num mundo atlântico”.

D. Teodoro Faria, bispo emérito do Funchal, observa que a grande expansão portuguesa destes 500 anos permitiu que o Evangelho chegasse “a muitos lugares do mundo”.

“Os portugueses que para aqui vieram foram extraordinários: trazendo as tradições do Continente, souberam adaptá-las a esta terra e criar cá uma forma cultual muito bela”, sustenta.

Um século depois da chegada dos primeiros navegadores nasce a Diocese do Funchal, em 1514; a Igreja de Santa Maria foi elevada à condição de Catedral e foi sagrada em 1516.

O Funchal seria posteriormente elevado à dignidade de arquidiocese, durante pouco mais de duas décadas, o que fez desta Igreja, no seu tempo, a maior arquidiocese do mundo, tendo como sufragâneas as dioceses do império colonial português nos Açores, Brasil, África e Oriente.

Com o crescimento da população surgem as primeiras ermidas, as primeiras igrejas, as primeiras paróquias.

Bruno Costa, historiador, observa que logo no início no século XV existiriam 10 paroquias em toda a ilha: Funchal, Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta do Sol, Calheta, São Vicente, Machico, Santa Cruz, Caniço e Porto Santo.

“No final do século XVI já são 36, ou seja, no primeiro século de plena expansão existem logo mais 26 paróquias, que no final do século XVII serão 42”, prossegue.

A reportagem, que está em destaque esta semana no Programa ECCLESIA na Antena 1 (22h45) resulta de uma colaboração entre o Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL) e a ECCLESIA.

CLEPUL/OC

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