Padre Rui Pedro, há 11 anos no país e responsável pelas comunidades lusófonas do Sul do Grão-Ducado, fala das expectativas da comunidade emigrante portuguesa com a visita de Francisco, na quinta-feira
Luxemburgo, 24 set 2024 (Ecclesia) – O padre Rui Pedro, missionário scalabriniano no Luxemburgo, espera que a visita do Papa ao país, esta quinta-feira, confirme o caminho de acolhimento da Igreja local às comunidades linguísticas e encoraje a sociedade a abrir-se à imigração.
“Esperamos que o Papa, que é muito sensível à imigração e aos refugiados, nos dê uma palavra de continuarmos o caminho de integração e o caminho de participação de todos desta Igreja que pretende ser cada vez mais sinodal, mais orientada pelos leigos e onde há espaço para todos”, afirmou o responsável pelas comunidades lusófonas do Sul do Grão-Ducado, em declarações à Agência ECCLESIA.
Depois de concluir a viagem mais longa do pontificado a 13 de setembro, passando pela Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura, o Papa Francisco inicia a 26 de setembro a visita ao Luxemburgo, a convite do Grão-Duque, dirigindo-se depois para a Bélgica, de onde se despede a 29 de setembro.
Há 11 anos no Luxemburgo e a viver em Esch-sur-Alzette, o padre Rui Pedro dá conta que a comunidade portuguesa “exaltou de alegria” quando soube do anúncio da visita do Papa ao país.
“A expectativa é, de facto, de grande ansiedade de poder estar com ele”, testemunha.
Devido ao programa breve no país e à limitação da lotação de pessoas na catedral de Notre Dame para um encontro com a comunidade católica, a igreja local está a mobilizar as pessoas para assistirem à passagem do Papa pelas ruas antes deste momento.
“As pessoas trabalham nessa altura, mas estamos a mobilizar para que também, como é hora de almoço, se organizem para poderem estar na rua para aclamar e para saudar o Santo Padre. Grande ansiedade, grande expectativa e também quase um retribuir-lhe a visita que fez a Lisboa o ano passado”, assinala, relatando que um grupo de jovens do Luxemburgo participou na JMJ Lisboa 2023.
40 anos após a visita de um Papa, o Luxemburgo recebe Francisco, que vai encontrar um país muito diferente do visitado por João Paulo II, na época marcado pela metalurgia e pelo mundo do trabalho e em que ainda não havia a separação Igreja/Estado.
“Não havia a separação destas duas realidades, onde a própria Igreja gozava de um estatuto muito diferente, que hoje não goza, a nível do clero, a nível dos bens da Igreja, a nível do ensino religioso nas escolas”, refere, indicando que atualmente não é possível a educação religiosa nestes estabelecimentos de ensino.
“Um país muito diferente, que o Papa vai encontrar hoje, sempre mais rico, mas também com dificuldade em integrar todas estas diversidades, quer culturais, quer religiosas, que neste momento já marcam o país de hoje”, destaca.
Ainda assim, o padre Rui Pedro salienta que os portugueses, cabo-verdianos e lusófonos em geral, bem como outras comunidades com afinidade com a cultura europeia, são bem recebidos no Luxemburgo.
“Os portugueses são bem acolhidos. É uma imigração estimada, reconhecida, vamos na segunda ou terceira geração, temos já, portanto, pessoas nos vários âmbitos da sociedade”, refere, mencionando que a nível da Igreja, há agentes pastorais portugueses, que a diocese fez questão de assumir para fazer parte da integração.
Apesar de ser um país de matriz cristã, o missionário scalabriniano fala que houve um grande afastamento das pessoas da Igreja Católica que falhou na aproximação às pessoas.
“Hoje temos um grande afastamento das pessoas na prática dominical”, aponta.
“Estamos um bocadinho assim esperançosos, que ele [Papa] entusiasme a Igreja a continuar o seu diálogo com a sociedade”, expressa o sacerdote, que espera que “da parte da sociedade haja um respeito pelo caminho feito pela Igreja e não hostilidade”.
O padre Rui Pedro assinala que a Igreja passa um momento “de grande mudança, de reestruturação”, estando expectante que o Papa “dê esperança a esta Igreja, uma Igreja onde o clero diminui”.
“O clero neste momento é já quase insuficiente para dar resposta à necessidade das paróquias, a vida religiosa é ausente de vocações neste país, não há vocações na vida religiosa feminina e masculina”, evidencia.
Sobre os jovens, o missionário scalabriniano defende que é necessário que as paróquias se interessem mais por eles, que acolham a sua irreverência e que vão ao encontro deles.
“Oxalá que também o Papa traga aos jovens esse novo elã que eles precisam, pelo seu testemunho, quem sabe também que algum jovem se possa decidir pela vida religiosa e pelo sacerdócio”, deseja.
LJ/OC
Com uma presença consolidada no Luxemburgo, o padre Rui Pedro diz ter “apendido muito” com as pessoas, famílias e jovens, desde que chegou ao país, a respeito da vida pessoal, mas também da experiência religiosa.
“Tenho também experienciado na primeira pessoa a dificuldade pastoral das migrações, portanto o ser ponte, o ser o mediador cultural, o ser alguém que tem que falar outras línguas, o ser alguém que participa em muitas reuniões, para ser porta-voz, neste caso da comunidade lusófona, dos seus anseios, de modo a que também não só nós damos o passo para a participação consciente na vida da igreja e na vida social, como também sensibilizar o clero e os leigos das paróquias a abrirem-se a perceber a nossa diversidade”, explica. Ao fim de 11 anos, o sacerdote diz sentir diferenças na abertura do país à diversidade. “Noto em algumas paróquias uma maior abertura, um maior apelo na participação nos conselhos paroquiais, uma maior abertura na cedência de espaços, uma maior abertura, de facto, até pessoas que têm aprendido português […] e maior tolerância para permitir que os imigrantes italianos, portugueses, do Montenegro e de outros países possam viver as suas festas e também as suas tradições religiosas aqui assim”, constata. Segundo o padre Rui Pedro, “não haverá futuro do cristianismo se não se acolher bem as comunidades imigrantes hoje”. Como resposta à desertificação dos luxemburgueses na vida cristã, o missionário propõe o compromisso dos cristãos, de outras origens, com o futuro da Igreja. “Assim teremos, de facto, não uma igreja em vias de extinção, como já ouvi dizer, mas uma igreja que se transforma e assume no seu seio cristãos de outras origens, para então ser, sim, sinal de uma Igreja universal, aberta a todos e missionária”, sublinhou. |
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