José Eduardo Rebelo, convidado semanal da entrevista Renascença/Ecclesia, deixa sugestões para superar limitações impostas pela pandemia
Lisboa, 01 nov 2020 (Ecclesia) – José Eduardo Rebelo, fundador da associação Apelo, afirmou que a prioridade no acompanhamento do luto é “ouvir e não censurar a pessoa”.
“Basicamente a estratégia do apoio ao luto é ouvir empaticamente e não julgar”, destaca o docente da Universidade de Aveiro, convidado da entrevista semanal Renascença/Ecclesia, publicada e emitida ao domingo, a partir de hoje.
O especialista destaca em particular o papel dos conselheiros do luto, que procuram “ouvir e não censurar a pessoa” que passa por uma situação de perda.
“O enlutado necessita exclusivamente de falar, ser ouvido, sem condições, porque não está disponível para ouvir, só está disponível para ser ouvido”, precisa.
José Eduardo Rebelo passou por uma tragédia pessoal e, desde então, criou uma associação – Apelo – que presta apoio a pessoas enlutadas e um centro de formação de conselheiros de luto – Espaço do Luto.
“O luto faz-se sempre e não é um trauma psicológico, não é uma doença”, assinala o docente, para quem o ser humano está “capacitado biologicamente para enfrentar e superar as perdas”.
Num ao diferente, por causa das restrições impostas pela pandemia, o fundador da Apelo sublinha a importância dos rituais, pessoais e comunitários.
Os rituais, obviamente, ajudam a criarmos rotinas relativamente a este mesmo processo, bengalas, se quiserem, para nos apoiarmos nos momentos em que estamos mais desequilibrados. Mas, passado esse tempo, sendo uma bengala mais cómoda ou não, mais ou menos baixa, o que é certo é que continuamos a nossa marcha e recuperamos… recuperamos, não, criamos um novo equilíbrio”.
José Eduardo Rebelo sublinha que um evento comunitário, como a comemoração dos Fiéis Defuntos (2 de novembro), ajuda a “normalizar” e criar “estratégias comunitárias de resposta” para o luto, mas sublinha que a Covid-19 obriga a levar em consideração outras dimensão.
“As pessoas também têm de pensar que está em risco a sua própria vida, se se deixarem contaminar. Temos de balancear isto, nesta perspetiva, e encontrar formas individuais de estabelecer memórias aprazíveis relativamente à pessoa perdida”, sublinha.
O especialista propõe gestos simbólicos, como colocar uma vela elétrica à janela, tarjas roxas ou a coroa de flores que se iria colocar no cemitério.
Claro que é possível – com as redes sociais, a internet – criar formas de as pessoas se encontrarem. Não é mesma coisa, porque estão habituadas a um ritual, e isto exige muita imaginação, da nossa parte. Como vocês sabem, os portugueses têm uma grande capacidade adaptativa”.
O fundador da Apelo fala do luto como um “problema de saúde pública”, defendendo respostas públicas “para o apoio ao luto e os conselheiros do luto
A nível académico, o docente constata “um salto qualitativo na abordagem na temática do luto em Portugal”, principalmente na última década.
“Já se fazem teses de doutoramento e mestrado, o luto já chegou às academias e já começa a ser investigado de uma forma que não era, de todo, antes de termos dado este impulso. Ora, isso é extremamente positivo”, precisa.
Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)