Luta contra a pobreza pouco evoluiu em cem anos

V Semana de Serviço Social promove reflexão A docente universitária Margarida Santos Silva defendeu ontem que, num século, pouco se evoluiu na luta contra a pobreza e a erradicação das desigualdades sociais. A especialista estabeleceu um paralelo entre os princípios que nortearam o percurso dos pioneiros da área do serviço social e os Objectivos do Milénio, cuja meta de implementação é 2015, para sublinhar «quão curto foi o caminho percorrido ao longo de cem anos». Esta professora falava sobre a “Luta Contra a Pobreza”, uma conferência inserida no programa da V Semana de Serviço Social, que decorre até amanhã na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa, em Braga, numa organização da Associação de Estudantes daquele estabelecimento, sobre os Objectivos do Milénio. Margarida Santos Silva referiu que fez uma pesquisa no Google da expressão “luta contra a pobreza” e conseguiu encontrar 2 milhões e 150 mil entradas. A docente explicou que a identidade profissional do serviço social se constituiu em torno da luta contra a pobreza, a injustiça e a desigualdade social. «Cem anos depois, vemos as mesmas metas nos Objectivos do Milénio », frisou. A especialista frisou que, apesar da evolução verificada ao longo do século XX a vários níveis, mais do que num milénio, continua a ser «lamentável » o que ainda se verifica a nível social. «A luta contra a pobreza e a desigualdade já faziam parte dos princípios que norteavam a acção dos que precederam e construíram uma “praxis” profissional empenhada com os problemas daquele tempo, que afinal são os mesmos que os nossos», afirmou. A partir de nomes de referência do serviço social, Margarida Santos Silva destacou o «compromisso histórico» deste grupo profissional com a luta contra a desigualdade e a injustiça social e o quão pouco se adiantou em relação ao que as pioneiras «fizeram e pensaram no final do século XIX e início do século XX». Em seu entender, «mudou o milénio e não tanto os problemas». Assumir um compromisso com a sociedade A docente afirmou que hoje sabe-se muito mais do que nos primórdios da profissão e há condições para fazer mais e melhor. Por isso, Margarida Santos Silva defende que os profissionais de serviço social devem afirmar a presença no espaço público, usar os instrumentos de que dispõem para intervir na sociedade, assumindo um «compromisso com a ousadia das predecessoras na luta contra a pobreza e as desigualdades sociais». Aproveitando esta deixa, o director da Faculdade de Filosofia chamou a atenção para os casos das famílias com problemas de alcoolismo, que não sabem gerir o dinheiro, com um clima pouco pacífico e em que os filhos vão de forma irregular à escola. Alfredo Dinis questionou se não é possível uma intervenção no terreno, no espírito de trabalho comunitário dos primórdios da profissão, mesmo que seja com um número reduzido de agregados. Em resposta, Margarida Santos Silva disse que essa intervenção é realisticamente «desejável e possível», chamando a atenção para múltiplas vertentes em que é necessário intervir em famílias onde o problema vai para além da questão económica e envolve domínios culturais e simbólicos. Em seu entender, é possível mobilizar recursos, mesmo no seio da mesma instituição de ensino superior. Os trabalhos recomeçam hoje, às 10h00, com um plenário sobre a forma como alcançar o ensino primário universal, com a presença de Manuel Sarmento (Instituto de Segurança Social) e Marta Campos. “Estudantes no ensino superior” é o tema do painel que começa às 11h40, com a participação de Pedro Cruz Mendes, Ana Bastos e Filipa Gonçalves. A partir das 14h30, têm início eventos em simultâneo: “teatro do oprimido” e “mercado de trabalho e imigração”. Às 17h20 começa a ser exibido o filme “Dancer in the Dark”. “Pelos Objectivos do Milénio” é o tema da V Semana de Serviço Social. Na Cimeira do Milénio da ONU, que teve lugar em Setembro de 2000, os países membros assinaram uma declaração, a Declaração do Milénio, que fixou oito objectivos específicos de desenvolvimento, a serem atingidos até 2015. Estas metas, chamadas os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, consistem em reduzir para metade pobreza extrema e a fome, alcançar a educação primária universal, promover a igualdade entre sexos, reduzir em dois terços a mortalidade infantil, reduzir em três quartos a taxa de mortalidade infantil, reduzir em três quartos a taxa de mortalidade materna, combater o HIV/SIDA, a malária e outras doenças graves, garantir a sustentabilidade ambiental e desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.

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