LUSOFONIAS – Unidade dos cristãos na terra do Brexit

Tony Neves

Vivi a Semana da Unidade (18 a 25 de Janeiro) aqui em Manchester. A maioria dos cristãos das Ilhas Britânicas professa o Anglicanismo, nascido no século XVI após ruptura entre o Papa e o rei de Inglaterra. Foram duros para os católicos os tempos que se seguiram e as feridas ainda não estão todas curadas. Todos nos lembramos das recentes ‘batalhas campais’ entre anglicanos e católicos na Irlanda do Norte, acirradas pelo excesso de presença dos meios de comunicação social.

Manchester e o norte de Inglaterra são, ainda hoje, mais católicos que o sul do país. E as razões são, sobretudo, históricas. Quando o rei Henrique VIII impôs o Anglicanismo ao seu povo, as comunicações eram muito fracas e Manchester ficava muito longe! Assim, o povo cá no norte continuou a ser católico até que chegaram as ondas anglicanas e a obrigação de conversão à nova forma de viver o cristianismo, em ruptura com Roma. O anglicanismo chegou a Manchester já sem o fogo das suas origens em Londres e, por isso, não conseguiu impor-se da mesma forma. Hoje, cerca de 20% dos ingleses em Manchester são católicos e a Igreja católica mantém diversas paróquias, escolas e obras sociais.

Durante a Semana da Unidade fui com o P. Eamonn Mulcahy, Espiritano inglês especializado em Missiologia, visitar e rezar na Catedral Anglicana. Bela, monumental. Ali, em Setembro de 2017, aconteceu um encontro de grande significado simbólico: Os Bispos Anglicano e Católico, representantes do judaísmo, islamismo, budismo e autoridades civis, reuniram-se para reflectir sobre os desafios ecológicos que o Papa Francisco lançou ao mundo na sua encíclica ‘Louvado Sejas’, sobre a urgência de uma ecologia integral. Ali, o P. Eamonn foi um dos oradores, num momento importante de diálogo ecuménico e inter Religioso.

A Semana da Unidade deste ano pôs os cristãos do mundo inteiro a reflectir sobre a justiça no mundo. O texto comum foi preparado por cristãos da Indonésia. Sabemos como certos povos no oriente do mundo vivem em contextos de pobreza gritante que clama por mais justiça na relação entre pessoas e povos. Estas questões ganham especial relevo num mundo marcado por um fosso cada vez mais fundo a separar ricos e pobres.

Quatro séculos depois, a paz está de regresso às Igrejas em Inglaterra. Hoje os desafios são outros e as Igrejas preparam-se para tempos novos, com um laicismo muito forte entre as populações de origem britânica e europeia e com a chegada e implantação em força do islamismo e de religiões orientais, trazidas e professadas por imigrantes de origem chinesa, indiana e outros países do Oriente.

A vontade de Cristo de ter um só Rebanho traduz-se bem neste compromisso comum dos cristãos de trabalhar por mais justiça e paz, num mundo com mais pontes e menos muros.

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Agência ECCLESIA

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