Tony Neves
Os gritos de ‘ALELUIA’ têm uma vibração mais forte por terras de África. Vivi e continuo a viver esta Páscoa por terras de Moçambique, onde cheguei à Beira para as grandes e concorridas cerimónias da Bênção dos Ramos. O calor é tórrido, as chuvas tropicais, muitas das estradas são picadas transformadas em pequenos rios de lama, as pessoas saúdam sempre com sorrisos nos lábios…
Dizem os especialistas nas liturgias cristãs que o Tríduo Pascal é uma celebração única. E é mesmo! Só que eu vivi-o de forma geograficamente ‘fracturada’! Sim, na Quinta-Feira Santa, presidi à Ceia do Senhor na Paróquia da Natividade, recém-criada nas periferias pobres (e agora muito alagadas!) da cidade da Beira. Ali lavei os pés a 12 anciãos, homens e mulheres que muito têm de lutar para sobreviver e assegurar a vida das suas grandes famílias. Ali, com uma comunidade a transpirar, celebrei a Instituição da Eucaristia.
A Sexta-Feira Santa apanhou-me noutra diocese: Nampula. Presidi à longa e muito concorrida Via-Sacra que percorreu os caminhos de terra batida da paróquia de S. Rafael, fundada pelos Irmãos de S. João de Deus nas periferias da cidade. No fim, largas centenas de pessoas participaram na longa Cerimónia da Paixão do Senhor, uma das celebrações mais participadas pelos cristãos em Moçambique. Só a Adoração da Cruz durou quase duas horas!
Mudei, novamente, de Diocese para a Vigília Pascal. S. José de Itoculo obriga a muitos quilómetros no corredor Nampula/Nacala e, depois, um desvio de uns 20 kms, em terra batida, agora transformada pelas chuvas em buracos e lama. E, claro, estou a falar apenas da sede da Missão onde vivi uma longuíssima Vigília Pascal, com várias horas de celebração, muitos baptismos, dois casamentos…tudo terminado em festa com uma ‘xima com frango’, o prato de farinha de milho cozida e oleada por um bem duro frango de capoeira.
Mas a Páscoa não se ficou pela Vigília e lá fizemos noventa bons minutos de saltos em terra batida e buracos para chegar, na manhã da Páscoa, a Cristo-Rei de Djipwi, para a Missa da Ressurreição, onde não faltaram, em grande número, baptizados e casamentos. Tudo aconteceu ao ar livre, aproveitando bem a sombra de enormes cajueiros. A ‘xima com frango’ voltou a ser o manjar da festa. É um excelente pretexto para testar os dentes europeus, pois as aves de capoeira em África são muito duras, mas têm o sabor que só o ar livre dá aos galinácios. Isto apenas para dizer que não comi pão de ló nem amêndoas, não houve vinho do Porto, mas foi uma Páscoa em grande.
Escrevo esta crónica pascal a olhar para o pacífico Oceano Índico, em Maputo, na hora de regressar a Portugal. E desejo a todos/as uma Pascoa chia desta Vida de Cristo.