LUSOFONIAS – Três Santos deste Jubileu

Tony Neves

Agosto é tempo de festas patronais. Este 2025, ano Jubilar, é marcado pela canonização e beatificação de algumas figuras que marcaram, nos últimos tempos, a história da Igreja. O Papa Francisco já tinha aprovado a canonização de Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati, bem como a beatificação de Floribert Bwana.

Que têm eles em comum? Uma fé de mover montanhas, um enorme compromisso em relação aos mais pobres e a morte em tenra idade, a provar que para Deus não conta a quantidade, mas antes a qualidade de vida. Mas Carlo e Floribert têm outras coisas em comum: a Mãe ainda viva (Gertrude – Floribert; Antónia – Carlo).  Carlo tem também o pai ainda entre nós (Andrea) e duas irmãs gémeas, já nascidas após a sua morte.

Comecemos pelo Floribert Bwana, beatificado  a 15 de junho. Nasceu em 1981 e cresceu na região de Goma, na parte mais agitada pela violência no Congo Kinshasa. Ligou-se, desde jovem, à Comunidade de Santo Egídio, trabalhando muito com crianças de rua, deslocados de guerra e outras pessoas votadas à pobreza e marginalização. Trabalhava na Alfândega de Goma, na fronteira com o Ruanda, numa área de muita instabilidade, onde a corrupção era generalizada. Como cristão, não aceitava pactuar com tentativas habituais para o comprarem e, por isso, ele foi sequestrado, por se negar a aceitar subornos. O objetivo era pagar a Floribert para que ele deixasse passar alimentos estragados. Encheria o bolso de dinheiro, mas muitas pessoas iriam ou morrer ou sofrer danos graves na sua saúde. Não aceitou. Foi assassinado a 8 de julho de 2007, após rapto e tortura. Tinha 26 anos.

A sua família de sangue recebeu a notícia da beatificação do filho com grande alegria e satisfação. Gertrude Kamara Ntawiha, mãe biológica de Floribert, mostrou-se profundamente agradecida, porque esta notícia a alivia um pouco da dor profunda em que se encontra desde a trágica morte do filho. Esta Mãe esteve na beatificação, em Roma e foi recebida e saudada pelo Papa Leão XIV.

‘Floribert – testemunha a mãe – foi assassinado em nome da sua fé cristã, por ter recusado uma oferta corrupta destinada a facilitar a entrada de alimentos que poderiam pôr em risco a saúde pública no território congolês. Ele escolheu claramente Deus até ao fim e escolheu morrer para viver em Cristo’.

Esta mãe pede aos jovens que sigam o exemplo de Floribert, que não se deixem corromper e que sigam os valores do Evangelho. Ela pede paz às autoridades congolesas, especialmente na região leste da RDC, onde Floribert foi morto e onde a população vive em sofrimento há mais de três décadas, sob a ameaça de grupos armados e agressões de alguns países vizinhos.

Pier Giorgio Frassati nasceu em Turim, em 1901, numa família rica. Cristão convicto, cedo se destacou pelo seu compromisso social, combatendo  a onda fascista que tomava conta da Itália nessa época, gerando pobreza, desigualdade social e falta de liberdade. Dedicou-se aos pobres de alma e coração. Amante do desporto e da montanha (foi um alpinista, naquela região dos Alpes), lançou iniciativas de caminhadas e traçou percursos a fim de promover o desporto saudável, a fraternidade entre as pessoas e também o crescimento espiritual. Faleceu com uma poliomielite a 4 de julho de 1925, com apenas 24 anos. Tornou-se, rapidamente, modelo para os mais jovens e foi um dos Patronos das JMJ em Lisboa 2023. Dizia: ‘Não devemos apenas querer ganhar a vida, mas viver!’. Será canonizado em Roma pelo Papa Leão XIV a 7 de setembro, na Praça de S. Pedro.

Vilarinho das Cambas, em Famalicão, é a 1ª paróquia portuguesa a venerar este santo. Diogo Cardoso, do Grupo de jovens, definiu-o assim: ‘Fez coisas ordinárias extraordinariamente bem feitas!’.

O mais conhecido dos novos santos é Carlo Acutis. Nasceu em Londres em 1991, filho de pais italianos, uma família de grandes negócios. Viveu em Milão, em Assis e morreu em Monza com um leucemia, aos 15 anos. Aluno notável e sempre bem relacionado, católico muito comprometido, desportista, criador de sites, ‘influencer’, profundo conhecedor e utilizador da internet, é o primeiro santo em jeans e ténis, uma referência interessante e ousada para as novas gerações. Há quem lhe chame já o ‘padroeiro da internet’. Devia ser canonizado no Jubileu dos Adolescentes, mas a morte do Papa Francisco adiou a festa. Será canonizado com Pier Giorgio Frassati a 7 de setembro, em Roma.

Todos choram as suas partidas tão cedo rumo à Casa do Pai. Mas, as famílias deles, tal como nós, olham para a luz de fé e humanidade que irradiam e a todos nos inspiram.

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