Tony Neves, em Roma
A História é mestra da vida e é bom fazer encontros com ela para percebermos, com profundidade, a razão de ser de certos eventos que nos marcam hoje. O mundo cristão está a viver o Tempo da Criação. O Dia de Oração pela Criação foi lançado em 1989 pelo Patriarca Ecuménico Dimitrios I para os ortodoxos, sendo assumido pelo Conselho Mundial de Igrejas anos mais tarde, estendendo-o para incluir a data da morte São Francisco de Assis. O Papa Francisco, em sintonia com o Patriarca Ecuménico Bartolomeu I, instituiu para a Igreja Católica este Dia de Oração 2015, dando força e consistência a um movimento global para renovar a relação com o Criador e a Criação. É uma iniciativa profundamente ecuménica.
Com a morte do Papa Francisco e a eleição de Leão XIV, havia algumas dúvidas sobre a forma como o novo Papa iria encarar este Tempo. Ele desfez todas as dúvidas quando, a 30 de junho, publicou a Mensagem para o X Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, a ser celebrado a 1 de setembro. Em ano de Jubileu, deu-lhe o título: ‘Sementes de Paz e Esperança’. O seu conteúdo tornou inequívoco o compromisso de continuidade do novo Papa em relação aos compromissos assumidos pelo Papa Francisco. Termina: ‘A encíclica ‘Laudato Si’ acompanha a Igreja católica e muitas pessoas de boa vontade desde há dez anos: que ela continue e inspirar-nos, e que a ecologia integral seja cada vez mais acolhida e partilhada como caminho a seguir’.
O Papa Leão voltaria ao tema no Angelus de 31 de agosto. Disse: ‘Amanhã, 1 de setembro, é o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. Há dez anos, o Papa Francisco, em sintonia com o Patriarca Ecuménico Bartolomeu I, instituiu para a Igreja Católica este Dia de Oração. Ele é mais importante e urgente do que nunca e este ano tem como tema ‘Sementes de paz e esperança’. Unidos a todos os cristãos, celebremo-lo e prolonguemo-lo no ‘Tempo da Criação’ até ao dia 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis. No espírito do Cântico do Irmão Sol, composto por ele há 800 anos, louvemos a Deus e renovemos o compromisso de não destruir o seu dom, mas de cuidar da nossa casa comum’.
Olhemos para o ‘Vídeo do Papa’, preparado para este mês de setembro, com o tema ‘Pela nossa relação com toda a Criação’. Depois de falar sobre a importância do cuidado da Casa Comum, Leão XIV termina com uma Oração: ‘Oremos para que, inspirados por São Francisco, possamos experimentar a nossa interdependência com todas as criaturas que são amadas por Deus e dignas de amor e respeito.
Senhor, Tu amas tudo o que criaste, e nada existe fora do mistério da Tua ternura. Cada criatura, por mais pequena que seja, é fruto do Teu amor e tem um lugar neste mundo. Mesmo a vida mais simples ou mais curta é cercada pelo Teu cuidado. Tal como São Francisco de Assis, também nós hoje queremos dizer: ‘Louvado sejas, meu Senhor!’. Através da beleza da criação, Tu revelas-Te como fonte de bondade. Pedimos-Te: abre os nossos olhos para Te reconhecermos, aprendendo com o mistério da Tua proximidade a toda a criação que o mundo é infinitamente mais do que um problema a resolver.
É um mistério a ser contemplado com gratidão e esperança.
Ajuda-nos a descobrir a Tua presença em toda a criação, para que, ao reconhecê-la plenamente, possamos sentir e saber que somos responsáveis por esta casa comum onde Tu nos convidas a cuidar, respeitar e proteger a vida em todas as suas formas e possibilidades. Louvado sejas, Senhor! Ámen.
O ‘Borgo Laudato Si’, ‘semente de esperança que o Papa Francisco nos deixou como herança’ foi inaugurado pelo Papa Leão, em Castel Gandolfo, a 5 de setembro. O Papa lembrou que ‘o cuidado da criação, portanto, representa uma verdadeira vocação para cada ser humano, um compromisso a ser cumprido dentro da própria criação, sem nunca esquecer que somos criaturas entre as criaturas e não criadores’. Concluiu: ‘O que vemos hoje é uma síntese de extraordinária beleza, onde espiritualidade, natureza, história, arte, trabalho e tecnologia pretendem coabitar em harmonia. É esta, em definitivo, a ideia de ‘aldeia’, um lugar de proximidade e convívio. E tudo isto não pode deixar de nos falar de Deus’.
Tony Neves, em Roma