Tony Neves, nas JMJ, em Lisboa
O Papa Francisco despediu-se em grande destas Jornadas Mundiais da Juventude de Lisboa. Já de malas feitas para regressar a Roma, foi até ao Passeio Marítimo de Algés para agradecer aos milhares de voluntários que foram de uma dedicação extrema nestas Jornadas. Para o Voluntário nº1 (o futuro Cardeal D. Américo de Aguiar), a encabeçar uma longa e eficiente lista, o Papa evocou as ondas gigantes da Praia da Nazaré, que só os grandes especialistas do mundo podem surfar. Foram inexcedíveis estes voluntários que víamos vestidos de amarelo em todos os eventos e momentos.
Mas façamos um pouco de marcha-atrás para evocar a Cidade da Alegria, os Rise-Up e os Festivais.
As manhãs de quarta, quinta e sexta foram de ‘Rise Up’, uma nova fórmula para apresentar os momentos de formação, encontro, partilha e celebração, feitos por grupos linguísticos, em dezenas de espaços entre Lisboa, Santarém e Setúbal. A partilha teórica foi sempre assegurada por um bispo que abordou os temas atuais e delicados da ecologia integral, da amizade social e da fraternidade universal. Os encontros terminaram sempre com a celebração da Eucaristia.
‘Festival da Juventude’ agendou mais de 500 eventos culturais que preencheu os dias e as noites dos jovens. A programação foi plural, permitindo uma difícil escolha, mas os espaços que visitei estavam todos cheios e com excelente qualidade e muita animação.
Em Belém, nos jardins em frente aos Jerónimos, foi construída a Cidade da Alegria com duas ‘fontes’: a do Perdão, com dezenas de confessionários feitos por reclusos, onde o Papa, bispos e padres celebraram com os jovens o sacramento da Reconciliação. A outra ‘nascente’ foi a Feira Vocacional onde era bem visível o rosto plural da Igreja, pois Institutos, Movimentos e Instituições ali animaram stands para dar a conhecer, de forma criativa e ousada, a missão que realizam e, sobretudo, mantiveram sempre pessoas para interagir com os milhares de jovens que por ali passaram.
Viajemos ainda até ao Centro Cultural de Belém, para o encontro do Papa com as autoridades e o corpo diplomático. Francisco começou por chamar a Lisboa ‘cidade do encontro que abraça vários povos e culturas e que, neste dias, se mostra ainda mais universal’. Depois, citou Camões, Amália Rodrigues, Daniel Faria, José Saramago, Fernando Pessoa e Sophia, nomes grandes da história da literatura e da cultura portuguesas. Citou extractos do Tratado de Lisboa, da reforma da União Europeia onde aparecem questões cruciais como ‘a paz, a segurança, o desenvolvimento sustentável do planeta, a solidariedade e o respeito mútuo entre os povos, o comércio livre e equitativo, a erradicação da pobreza e a protecção dos direitos humanos’. Condenou todos os atentados à vida. Porque, ‘no oceano da história, estamos a navegar num momento tempestuoso e sente-se a falta de rotas corajosas de paz’, o Papa apelou ao cumprimento do ‘sonho europeu’ acabando com a guerra na Ucrânia e outras formas de violência que ensanguentam o mundo. Pediu ainda a globalização da solidariedade, na partilha de bens e tecnologias.
Lembrou que ‘há uma maré de jovens que se espraia sobre esta cidade acolhedora(…). Jovens provenientes de todo o mundo que cultivam anseios de unidade, paz e fraternidade e desafiam-nos a realizar os seus sonhos bons’. Não gritam com raiva, mas partilham a esperança do Evangelho. Não se pode apenas’ respirar um clima de protesto e insatisfação’, porque isso é ‘terreno fértil para populismos e conspirações’.
No fim, o Papa falou dos três estaleiros de construção da esperança: o ambiente – há que defender a criação, a nossa casa comum; o futuro – são os jovens, que é necessário educar e apoiar numa comunhão intergeracional; a fraternidade – cultivando a vizinhança e a solidariedade, fazendo ‘tanto bem mesmo longe dos holofotes’.
Mas estas JMJ ofereceram muitos outros encontros, visitas e celebrações que vamos evocar na próxima semana.