Tony Neves
Está calor em Roma, com a humidade a dar a sensação de que a temperatura está ainda mais alta. Mas, mesmo assim, ninguém pára peregrinos e turistas, estes dois grupos de gente habituados a enfrentar frios e calores, bons tempos e tempestades.
Roma está, assim, a borbulhar de vida. O Papa Francisco está sempre na crista da onda ou, se quisermos, na cratera do vulcão. Fala-se muito por aqui dos ‘calores’ que subiram à cabeça de alguns purpurados da Igreja, pouco interessados na reforma e no rasgo de Francisco que quer uma Igreja mais santa e uma Missão mais próxima dos pobres, assente num estilo de vida simples e fraterna. Mas Francisco continua a olhar para o futuro. A sua ida à Ilha da Sicília, muito marcada pelo agir da máfia, é um sinal de coragem no combate a todos os tipos de intervenção humana que assentam na morte e no desrespeito da dignidade e dos direitos humanos. Francisco foi lá dizer que não se pode ser cristão e mafioso, pois o Evangelho de Cristo tem que marcar as atitudes dos seus seguidores 24 h por dia. Francisco teve a ousada coragem de prestar homenagem a um padre e a um juiz que foram assassinados a mando desta associação mafiosa.
Regressou a Roma e, na praça de S. Pedro, pôs pobres e sem abrigo a distribuir crucifixos por todo o povo ali presente. E, da sua janela, a olhar e a falar para o mundo, Francisco pegou numa dessas cruzes e explicou que não é um adorno que se põe ao pescoço ou prega na lapela do casaco. A cruz é sinal de salvação, pois foi nela que Cristo deu ao mundo a maior lição que um Deus pode dar: entregou a sua Vida por todos.
Começou esta terça o encontro do Conselho Geral dos Espiritanos com os 15 Superiores Maiores que foram eleitos para o cargo em 2017. Vieram dos cinco continentes até Roma para reflectirem, partilharem experiências e aprenderem a melhor desempenhar o cargo de animar e ‘governar’ as circunscrições Espiritanas onde foram eleitos. É uma Missão difícil essa de coordenar projetos e acompanhar pessoas. São enormes os desafios e muitos os problemas que têm de enfrentar com discernimento, coragem e sentido profético de serviço.
Estes dias de adaptação a Roma, após 5 anos de Angola e 24 de Portugal, estão a ser de enorme beleza, pela diversidade rica com que me confronto a cada minuto que passa. Olhar para os compromissos que, por esse mundo fora, a grande Família Espiritana, vive, nos âmbitos alargados da Justiça, Paz e Integridade da Criação, obriga-me a conhecer mais e melhor a doutrina social da Igreja e o muito que já se faz, para que a Missão Espiritana cumpra a sua Regra de Vida que diz que os mais pobres e abandonados têm de ser os primeiros alvos da nossa Missão. Assim – como dizem os Jovens Sem Fronteiras – o importante é ‘estar perto dos que estão longe sem estar longe dos que estão perto’.