LUSOFONIAS – Quando o Papa vem à janela…

Tony Neves, em Roma

Domingo, Praça de S. Pedro, 11.45. Abre a 2ª janela do 3º andar do Palácio papal e estende-se o tapete. 12h, toca o sino da basílica três vezes (as Trindades), o Papa aparece à janela, batem muitas palmas e grita-se na Praça. Ouve-se pela amplificação sonora: ‘Cari fratelli e sorelle, buongiorno!’…Começa assim o Angelus, nome dado a este momento em que se faz a Oração Tradicional da Igreja que evoca a anunciação do Anjo a Nossa Senhora e o nascimento de Jesus. Após a saudação, o Papa faz uma reflexão sobre o Evangelho desse domingo, reza o ‘Angelus’ e, depois, fala do que no mundo está a acontecer, do melhor e do pior, convidando à oração e ao compromisso social. Cita alguns grupos presentes e dá a bênção. 15 minutos depois, o Papa está pronto a recolher-se, tirar o tapete e mandar fechar a janela. É este o ritual do meio dia dos domingos em que o Papa está em Roma.

Sempre que eu posso, desço à Praça e junto o ritual do Papa ao meu. Vou cedinho, logo após a Missa na minha Comunidade. Chego pelas 11h e submeto-me aos controlos de segurança, os mesmos que sofremos quando viajamos de avião. Uma vez na Praça de S. Pedro, dirijo-me à Basílica, passando cima da placa que, no chão, indica o local onde o papa João Paulo II foi alvejado, a 13 de maio de 1981. Subo as escadas e, entrando, vou rezar uma Avé-Maria junto da estátua da Pietà de Miguel Ângelo. Encontro lá sempre uma multidão de gente que se deixa fascinar por aquele mármore onde Nossa Senhora segura o Filho morto nos seu braços, numa das expressões mais violentas da vida humana, a representar a morte de Cristo, associando todos os pais que perdem filhos. Continuo a minha peregrinação pela direita e paro junto do altar onde está sepultado S. João Paulo II, aquele que eu vi em Coimbra em 1982 e acompanhei durante alguns dias em Angola e S. Tomé, no ano de 1992. Voltaria a encontra-lo em Fátima. Sigo para a Capela do Santíssimo, um lugar de rara beleza e de um silêncio que ajuda a rezar e a reflectir. Avanço para o altar onde está sepultado o bom Papa João XXIII, o homem corajoso que lançou o Concilio Vaticano II. Mais uns metros à frente e já estou diante da grande estátua de S. Pedro, o Padroeiro da Basílica. Paro e rezo. Depois, vou ao centro fico longamente a olhar a imponente abóbada e o baldaquino de Bernini, aquela estrutura enorme que está sobre o Altar Central da Basílica. Lá ao fundo, admiro o vitral que representa o Espírito Santo e que enche este espaço sagrado de um laranja muito luminoso. O tempo corre e eu continuo o caminho descendo pelo lado oposto até me deter no Baptistério. Não saio da Basílica pela porta principal, mas desço  à cripta onde está o túmulo de S. Pedro e de muitos dos Papas, incluindo Paulo VI e João Paulo I. Saio, finalmente da Basílica e vou até ao conjunto escultural de Timothy Schmalz (foto) que, desde 2019, provoca peregrinos e turistas, chamando a atenção para o drama que muitos imigrantes vivem no Mediterrânio quando tentam atravessar de barco para chegar à Europa de todas as promessas e sonhos.

E pronto. Coloco-me junto ao obelisco e espero pelas 12h. Estive lá nos três últimos domingos e deliciei-me com as reflexões e interpelações do Papa. No dia 6, o Papa contou a história da desilusão dos apóstolos após noite de pesca mal sucedida. Mas quando Jesus mandou lançar as redes para o outro lado, a pesca foi milagrosa. Nos temas de actualidade, o Papa falou dos dramas do tráfico de pessoas e da mutilação genital feminina, elogiando quem se compromete na sua erradicação. Falou da criança de Marrocos que morreu no poço e do imigrante jovem ganês, John, com um cancro terminal, a quem o povo de Monferrato pagou o bilhete para ele ir morrer nos braços do pai.

A 13, o Papa falou das bem-aventuranças e pediu um minuto de silêncio pela Ucrânia. Neste domingo, pediu a coragem de amarmos os inimigos, dando a outra face, rejeitando a vingança, quebrando as cadeias da violência. Rezou e mostrou solidariedade com as vítimas das catástrofes naturais em Petrópolis (Brasil) e em Madagáscar. E, neste Dia Nacional do Pessoal de Saúde, pediu uma salva de palmas a quantos deram a dão a vida no combate a todas as doenças, sobretudo a covid 19.

Depois da Oração do Angelus e da Benção, os presentes gritam e batem palmas e eu fico só à espera de ouvir: ‘A tutti auguro una buona domenica. Per favore, non dimenticatevi di pregare per me. Buon pranzo e arrivederci!’ou seja ‘Desejo a todos um bom domingo. Não se esqueçam de rezar por mim. Bom almoço e adeus’!’

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Agência ECCLESIA

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