Tony Neves, em Roma
É Pentecostes. Assim termina o tempo de celebração especial da Páscoa. 50 dias após a Ressurreição, o Espírito Santo desce, abala corações e marca o início da Igreja.
É a festa da força e da coragem, após um tempo em que os Apóstolos se fecharam cheios de medo, depois de Cristo ter sido preso, condenado e morto. Aquele vento forte que abriu as portas trancadas da casa onde os discípulos de Jesus se refugiaram, marcou uma grande viragem na história dos cristãos. Por isso, o Pentecostes tem o estatuto de grande Solenidade, como a Páscoa e o Natal.
Os Espiritanos chamam-se assim porque foram dedicados ao Espírito Santo, logo à nascença. Esta Congregação Missionária foi fundada em Paris, em 1703, no dia de Pentecostes. Hoje, esta família tem cerca de 2500 membros professos, espalhados pelo mundo inteiro. E estão mais de mil jovens em formação, para discernir se o seu futuro passa ou não por uma consagração religiosa e missionária. O Pentecostes, por razões evidentes de fundação e história, é a festa patronal. A Casa Geral, em Roma, celebra esta Solenidade reunindo a família espiritana que vive e trabalha na Cidade Eterna. E convida algumas pessoas que, por muitas e variadas razões, estão ligadas à instituição. Neste 2025, o Cardeal D. José Tolentino Mendonça foi o presidente da Eucaristia, que é sempre o ponto alto das comemorações, marcando o fim da tarde deste domingo tão especial. Na homilia, a que deu o título ‘O Espírito Santo é o grande agente da transformação’, disse: ‘Continuai a amar Jesus e Ele vos enviará o Espírito. Este Espírito é Consolador; Recriador; Espírito que dentro de nós defenderá a audácia da esperança. Porque o dilema incessante da fé e da descrença, da noite e do dia, da esperança e do desânimo, é constantemente vivido e revivido no palco da história e dentro de nós mesmos. Jesus enviará o Espírito Santo, que será o defensor da fé, da esperança e do amor em cada um de nós e dentro da nossa época ferida pela incerteza (…). O Espírito ativa em nós esta capacidade de acreditar, esta capacidade de esperar, esta capacidade de permanecer fiéis ao próprio Amor (…). O Espírito é a continuação da história pascal, uma continuação que não é uma cópia rotineira ou uma repetição sonâmbula, porque o Espírito Santo tem grande imaginação! A criatividade do Espírito derrama em nós dons diferentes, carismas diversos, competências complementares, para que possamos construir o Reino de Deus onde quer que estejamos. É o Espírito que nos move, por isso o Espírito Santo é o grande protagonista da vida da Igreja e da sua missão. Ele caminha à nossa frente, surpreendendo-nos, inaugurando processos de profecia, potenciando os novos sinais dos tempos(…). O Espírito Santo, prometido por Jesus, expressa-se numa linguagem universal, que não se choca com os habituais bloqueios de tradução que tanto nos atrapalham. Porque nos faz falar a linguagem do amor e da compaixão; a linguagem da alegria e da fraternidade; a linguagem da visita, do cuidado e do dom (…). E a verdade é que o Espírito Santo não cessa de desafiar a Igreja (…). O Espírito é a expressão de Deus, o seu alfabeto (…). Hoje somos nós aqueles chamados a colaborar com alegria e esperança no nascimento da vida. E porquê? Porque o Espírito Santo, a força, o vento, o sopro, o hálito, o respiro do Espírito Santo, está em nós’.(…). É o Espírito Santo que transforma a inércia em dinamismo missionário. De uma Igreja fechada para uma Igreja missionária. É o Espírito Santo que transforma uma fé que não é nem quente nem fria, numa fé viva. É o Espírito Santo que nos dá o sentido ministerial, que nos torna discípulos e discípulas de Jesus e, ao mesmo tempo, missionários do Espírito Santo. O Espírito Santo amplifica a nossa capacidade de sonhar novos céus e nova e terra. E hoje precisamos de procurar visões amplas, visões ‘harmonizadas e integradoras’, como nos desafia o Papa Leão XIV’.
Ao ouvir o Cardeal Tolentino, vieram-me logo à memória as belas e provocadoras palavras do Papa Francisco, dirigidas aos Espiritanos a 8 de maio de 2023: ‘Detenho-me nestas palavras porque me parecem refletir muito bem alguns dos valores fundamentais do vosso carisma: a coragem, a abertura e o abandono à ação do Espírito, para que Ele faça algo novo’. Fica o desafio!
Tony Neves, em Roma
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