LUSOFONIAS – Pegadas cristãs de Burgos e Toledo

Tony Neves, em Burgos e Toledo

Burgos apareceu-me diante dos olhos por causa de Roa. Desde há décadas que os Espiritanos têm uma presença por terras de Aranda de Duero. O Arcebispo de Burgos trocou as voltas a estes missionários e propôs uma ligeira mudança de geografia: atribuiu-lhes 24 comunidades rurais com sede em Roa, a 20 kms de Aranda e 84 de Burgos.

Andemos uns dias para trás, a fim de contar, muito de corrida, como foram os dois dias em Pedrezuela, a 43 kms de Madrid, lá onde os Espiritanos acompanham quatro comunidades, multiculturais na sua maioria, pois ali moram pessoas de cerca de 60 países diferentes. Pude visitar todas estas comunidades, levado e guiado pelos quatro padres que ali vivem, mostrando também o rosto plural do mundo, dadas as suas proveniências: Polónia, Angola, Senegal e Camarões.

A viagem de Pedrezuela até Roa foi de carro, conduzido pelo P. Michael, Superior desta nova Comunidade. A primeira paragem foi nas periferias de Aranda de Duero, onde os Espiritanos têm um belo e grande edifício que foi Seminário, depois Centro Terapêutico de Desintoxicação, e é agora uma casa de acolhimento, dirigida pela Caritas de Burgos. Dali a Roa é um pequeno passo.

Situada nas margens do Douro, nesta Província de Castela e Leão, numa área de vinhas e adegas, Roa é uma povoação cheia de história, bastando olhar para a antiquíssima Igreja renascentista dos séc.XII, dedicada a N. Sra da Assunção. O pároco é António Mosso, português. As comunidades que assistem são partilhadas por três Padres de três países diferentes: Portugal, Nigéria e Tanzânia. O que mais alegria me deu foi a visita guiada a 12 destas comunidades, todas com Igrejas antigas e belas, mas a acusar o envelhecimento das populações que as habitam. E, claro, degustei a gastronomia local, com o cordeiro assado a impor-se sobre os restantes menus tradicionais.

Burgos, sede da Arquidiocese, tem uma Catedral que é Património da Humanidade. O Vigário-Geral, P. Carlos Izquierdo, assegurou a visita guiada a esta Igreja-Mãe. Mostrou que conhecia cada pedra, estátua, pintura, vitral, bem como a simbólica e história de cada espaço. Há ali uma multiplicação de imponentes capelas, que vão do gótico austero à exuberância do rococó.

Com os olhos cheios de arte e cultura, regressei a Madrid para rumar a Toledo, outra cidade cheia de história e de monumentos. Tempos houve em que Braga e Toledo discutiam quem era Primaz das Espanhas! O centro histórico é património da humanidade, com a Catedral a impor-se nesta cidade à beira-Tejo plantada. Comecei por ver a parte central, o coro, com o cadeiral dos cónegos trabalhado com exuberância barroca. A sala do capítulo tem pinturas de todos os Bispos, desde S. Eugénio (67-103). A sacristia é uma Capela Sistina em ponto pequeno, com inúmeros quadros de El Greco, pintados entre 1577 e 1579, bem como de outros grandes pintores. Depois, impunha-se visitar o Tesouro com a Custódia da Catedral, a maior do mundo, feita em 1515. Aquela jóia de ouro trabalhado só sai da catedral na Procissão do Corpo de Deus que chama a Toledo centenas de milhares de pessoas, entre turistas e peregrinos. A título de excepção, foi utilizada na vigília de adoração nas Jornadas Mundiais da Juventude em Madrid, presididas pelo Papa Bento XVI, em 2011.

Para mim, falar em Toledo obriga a citar El Greco. A sua obra-prima, presente em todas as Histórias de Arte, é o Enterro do Conde de Orgaz que justifica a visita à Igreja de S. Tomé. Há ainda a Sinagoga do séc, XIII (chama-se hoje ‘Monumento Sinagoga de Santa Maria la Blanca’) e o antigo convento de San Juan de los Reyes, outra pérola do gótico. Na fachada exterior tem dezenas de cadeias de ferro presas à parede, a significar a libertação dos escravos. As ruas comerciais de Toledo estão cheias de ‘damasquinados’, ou seja, peças artísticas de inspiração árabe feitas à mão com ouro, como quem trabalha as filigranas. Comi um gaspacho andaluz, essa sopa fria com tomate, pepino, e pimento e, na hora do café, tive de provar o ‘massapanes’, doce típico feito à base de amêndoa e mel.

Neste périplo missionário por terras hispânicas, falta partilhar o que vivi em Madrid e Barcelona. Basta, para tal, esperar uma semana…Só sairemos da Península depois de partilhar o que vivi nas duas maiores e mais emblemáticas cidades deste enorme país ibérico.

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Agência ECCLESIA

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