Tony Neves, em Roma
A Indonésia é o país muçulmano mais populoso do mundo. Dos 276 milhões de habitantes, quase 90% são seguidores da religião islâmica. Os católicos são 3%, outros cristãos atingem os 7% e há budistas, hinduístas, confucionistas a aproximar-se do 1%. Apesar desta esmagadora maioria muçulmana, o país considera-se multirreligioso e multiétnico, apostando numa tolerância que, só em algumas partes do território, tem degenerado em fundamentalismo.
A Igreja Católica é uma instituição respeitada porque intervém muito, sobretudo na educação, na saúde e no desenvolvimento, áreas sempre sensíveis para as populações mais pobres de um país. Paulo VI e João Paulo II visitaram a Indonésia, pelo que a chegada do Papa Francisco não constitui uma novidade nem para o governo, nem para o povo, nem para a Igreja que ali vive. O lema traduz o grande objetivo da visita: ‘Fé, Fraternidade e Compaixão’.
Esta viagem é a mais longa do pontificado de Francisco, com mais de 32 mil kms, atingindo dois continentes: a Ásia e a Oceânia!! Começou em Roma na tarde de 2 de fevereiro e ali terminará no dia 13, quando o Papa regressar de Singapura. Depois da Indonésia, serão a Papuásia – Nova Guiné e Timor Leste os países que terão a alegria de acolher o Sumo Pontífice, líder da Igreja Católica.
Cansado da viagem, o Papa recolheu-se na Nunciatura onde se encontrou com 40 pessoas, incluindo órfãos, idosos, pobres e refugiados, apoiados por Irmãs Dominicanas, pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados e pela Comunidade de Santo Egídio. Depois, descansou…
Saudou o Presidente Joko Widodo, autoridades e diplomatas, apelando à riqueza da diversidade e ao compromisso de todos: ‘a harmonia alcança-se quando cada um se empenha, não apenas em favor dos seus interesses e da sua visão, mas tendo em vista o bem de todos, a construção de pontes, o fomento de acordos e sinergias, a congregação de esforços para derrotar qualquer forma de miséria moral, económica e social, e promover a paz e a concórdia’.
Reuniu e rezou com as forças vivas da Igreja católica. Falou dos três valores do lema da viagem, terminando com um apelo: ‘continuar a missão fortes na fé, abertos a todos na fraternidade e próximos de cada um na compaixão’. Quando abordou a fraternidade, o Papa lançou um alerta: ‘Este é também um valor caro à tradição da Igreja indonésia e manifesta-se na abertura com que ela se relaciona com as várias realidades que a compõem e rodeiam, a nível cultural, étnico, social e religioso, valorizando o contributo de todos e dando generosamente o que é seu em cada contexto’. Ao fim do dia, encontrou os jovens da ‘Scholas Occurrentes’, como o fizera em Cascais nas JMJ.
Andrea Tornielli escreveu: ‘em Jacarta, a mesquita Istiqlal, a maior do sudeste asiático, e a Catedral Católica de Nossa Senhora da Assunção ficam em frente uma da outra, próximas, mas separadas por uma estrada de três pistas. Uma antiga passagem subterrânea foi restaurada, decorada com obras de arte e transformada no “túnel da fraternidade” para conectar o local de oração dos muçulmanos com aquele onde os cristãos celebram a Eucaristia’. É consensual que o momento mais simbólico da visita papal foi o Encontro InterReligioso realizado nesta Mesquita, estando lado a lado o Grão Imã Nazaruddin Umar e o Papa Francisco. Ambos atravessaram o ‘túnel da amizade’ e assinaram a ’Declaração de Istiqlal’, com o objetivo claro de promover a harmonia e o diálogo inter-religioso para o bem da humanidade, pois as Religiões devem combater a violência e a indiferença.
A Eucaristia, no Estádio Gelora Bung Karno, o maior do país, marcou o fim desta visita à Indonésia, em dia de S. Teresa de Calcutá. O Papa, perante uma multidão em festa, reafirmou a importância de continuar, num país com 18 mil Ilhas, a ‘lançar as redes do Evangelho no meio do mar do mundo’.
A Papua – Nova Guiné foi a etapa seguinte desta visita. Após emotivo e vivo encontro, na capital Port Moresby, com crianças apoiadas por organizações diocesanas, o Papa refletiu com forças vivas da Igreja sobre ‘“A coragem de começar, a beleza de estar e a esperança de crescer”. Desafiou: ‘Continuem assim a vossa missão, como testemunhas de coragem, de beleza e de esperança! E não esqueçais o estilo de Deus: a proximidade, a compaixão e a ternura. Ide sempre em frente com este estilo do Senhor!’ Terminou, como sempre, com um pedido: ‘Não vos esqueçais nunca de rezar por mim, porque eu preciso muito!’.
Timor Leste recebeu, de braços abertos, o Papa Francisco. À visita ao mais jovem país da lusofonia, confiaremos a crónica que se segue…
Tony Neves, em Roma