LUSOFONIAS – Papa Leão na Turquia e Líbano

Tony Neves

Foto: Lusa/EPA

Há viagens que deixam marcas profundas pela oportunidade, novidade, impacto e profundidade das mensagens proferidas. Esta visita do Papa Leão à Turquia e ao Líbano ficará para a história, não só por ser a sua primeira viagem apostólica, mas também pela força da sua presença e pelas portas de paz e unidade que tentou abrir.

Há pretextos que ajudam a partir. A celebração dos 1700 anos do Concílio de Niceia foi a grande razão para esta visita do Papa. Na atual Turquia, Iznik, a antiga cidade de Niceia foi palco de um grande encontro ecuménico, pois o Credo que ali foi definido é ainda hoje recitado por muitos cristãos de muitas Igrejas, infelizmente separadas. O Papa Leão e outros líderes cristãos viram nesta celebração um convite de Deus para que os caminhos que levam à unidade dos cristãos possam ser percorridos o mais depressa possível. Disse no Encontro Ecuménico: ‘A reconciliação é hoje um apelo que vem da inteira humanidade afligida por conflitos e violência. O desejo de plena comunhão entre todos os que creem em Jesus Cristo é sempre acompanhado pela busca da fraternidade entre todos os seres humanos. No Credo Niceno professamos a nossa fé «em um só Deus, Pai todo-poderoso»; no entanto, não seria possível invocar Deus como Pai se recusássemos reconhecer os outros homens e mulheres como irmãos e irmãs, também eles criados à imagem de Deus. Existe uma fraternidade e sororidade universal, que não depende da etnia, nacionalidade, religião ou opinião. Por sua natureza, as religiões são depositárias desta verdade e deveriam encorajar as pessoas, os grupos humanos e os povos a reconhecê-la e a praticá-la. O uso da religião para justificar a guerra e a violência, assim como qualquer forma de fundamentalismo e fanatismo, deve ser rejeitado com veemência, enquanto os caminhos a seguir são os do encontro fraterno, do diálogo e da colaboração’.

Um dos momentos altos desta visita foi o encontro entre o Patriarca Ecuménico Bartolomeu I e o Papa Leão que assinaram uma declaração conjunta onde está escrito: ‘A meta da unidade cristã inclui o objetivo de contribuir de maneira fundamental e vivificante para a paz entre todos os povos. Juntos, levantamos fervorosamente as nossas vozes para invocar o dom da paz de Deus sobre o nosso mundo. Tragicamente, em muitas regiões do nosso planeta, conflitos e violência continuam a destruir as vidas de tantas pessoas. Apelamos àqueles que têm responsabilidades civis e políticas para que façam tudo o que for possível para garantir que a tragédia da guerra cesse imediatamente, e pedimos a todas as pessoas de boa vontade que apoiem o nosso apelo. Em particular, rejeitamos qualquer uso da religião e do nome de Deus para justificar a violência. Acreditamos que o diálogo inter-religioso autêntico, longe de ser causa de sincretismo e confusão, é essencial para a coexistência de povos de diferentes tradições e culturas. Tendo em mente o 60º aniversário da declaração Nostra Aetate, exortamos todos os homens e mulheres de boa vontade a trabalharem juntos para construir um mundo mais justo e solidário e a cuidarem da criação, que nos foi confiada por Deus. Só assim a família humana poderá superar a indiferença, o desejo de domínio, a ganância pelo lucro e a xenofobia’.

O Líbano é dos países cuja história mostra sucessivos retrocessos em termos de progresso económico, bem-estar e segurança das populações e de liberdade religiosa. Pelo facto de alojar movimentos extremistas, tem sido alvo de ataques externos, mas também de violências internas. De um povo rico na diversidade, próspero e desenvolvido, o Líbano transformou-se num barril de pólvora. Como sempre, as maiores vítimas são as populações simples, incluindo as comunidades católicas, cada vez mais marginalizadas nesta região. A recente guerra entre Israel e a Palestina fez do Líbano campo de batalha, com consequências desastrosas para as populações que ali tentam sobreviver.

O Papa, no encontro com as Autoridades, resumiu o essencial: ‘A paz é, na verdade, muito mais do que um sempre precário equilíbrio entre aqueles que vivem separados sob o mesmo teto. A paz é saber viver juntos, em comunhão, como pessoas reconciliadas. Uma reconciliação que, além de nos fazer conviver, nos ensinará a trabalhar juntos, lado a lado, por um futuro partilhado’.

Tony Neves

 

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