LUSOFONIAS – Papa Francisco, quatro meses depois…

Tony Neves, em Portugal

Ainda ecoam dolorosamente nos meus ouvidos, aquele grito de um confrade meu, na manhã de segunda feira de Páscoa: ‘Morreu o Papa Francisco!’. Confesso que não acreditei à primeira, pois ele tinha passado a poucos metros de mim, na Praça de S. Pedro, no fim da manhã de Páscoa. É verdade que o sorriso estava descolorido e a mão teve dificuldade de erguer-se para nos abençoar, mas não passou pela cabeça de ninguém que aquela seria a sua última Páscoa entre nós.

Quatro meses depois, ainda vivo da sua inspiração e dos seus convites a sermos uma Igreja simples, desinstalada, pobre, ‘hospital de campanha’, profundamente evangélica, aberta e disponível para servir todos, todos, todos! Destaco 12 frases que me marcam:

‘Desenvolveu-se uma globalização da indiferença. (…). Já não choramos à vista do drama dos outros.(…). A cultura do bem-estar anestesia-nos’ (Evangelium Gaudium, nº54) – 2013.

A humanidade precisa de mudar. Falta a consciência duma origem comum, duma recíproca pertença e de um futuro partilhado por todos’ (Laudato Si, nº 202) – 2015.

‘O tempo que estamos hoje a viver não precisa de jovens-sofá, mas de jovens com chuteiras. Este tempo aceita apenas jogadores titulares. Temos de deixar uma marca’ (Jornadas Mundiais de Juventude – Cracóvia) – 2016.

Sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho’(Fátima, 12 de maio) – 2017.

As bem-aventuranças são como que o bilhete de identidade de cristão.(…). A misericórdia é a chave do céu’(Gaudete et Exultate, nºs. 63 e 105) – 2018.

Não fiqueis a observar a vida da sacada. Não sejais carros estacionados. Não olheis o mundo como turistas! Fazei-vos ouvir! Vivei! Abri as portas e saí a voar!’ (Christus vivit, nº 143) – 2019.

Fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furiosa. Estamos no mesmo barco, sozinhos afundamos, todos chamados a remar juntos’ (Oração na praça de S. Pedro, 27 de março) – 2020.

Nunca mais a guerra (nº258). Toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. É um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal’ (Fratelli Tutti, nº 261) – 2020.

Para se dizer verdadeiramente ‘não’ à violência, não basta evitar atos violentos; é preciso extirpar as raízes da violência: penso na ganância, na inveja e, sobretudo, no rancor.(…). Tenham a coragem de desarmar o coração’ (Visita a Kinshasa, RDC, 2 de fev.) – 2023.

‘É a hora de dizer basta… sem ‘ses’ nem ‘mas’: basta de sangue derramado, basta de conflitos, basta de violências e recíprocas acusações sobre quem as comete, basta de deixar à mingua de paz este povo dela sedento’ (Visita ao Sudão do Sul, 4 fev.) – 2023.

 ‘O amor venceu o ódio. A luz venceu as trevas. A verdade venceu a mentira. O perdão venceu a vingança. O mal não desapareceu da nossa história e permanecerá até ao fim, mas já não lhe pertence o domínio, não tem qualquer poder sobre quem acolhe a graça deste dia’. (Mensagem Urbe et Orbi, Páscoa, 20 abril) – 2025.

Na Páscoa do Senhor, a morte e a vida enfrentaram-se num admirável combate, mas agora o Senhor vive para sempre (cf. Sequência Pascal) e infunde em cada um de nós a certeza de que somos igualmente chamados a participar na vida que não tem fim, na qual já não se ouvirá o fragor das armas nem os ecos da morte’ (Mensagem Urbe et Orbi, Páscoa, 20 abril – 2025. Foram as suas últimas e inspiradoras palavras!

Silvonei José, um dos responsáveis pela edição portuguesa da Rádio Vaticano, disse: ‘Foi o primeiro em muitas coisas: o primeiro Papa jesuíta, primeiro Papa originário da América Latina, primeiro a escolher o nome Francisco,  primeiro a ser eleito com o seu antecessor ainda vivo, primeiro a residir fora do Palácio Apostólico, primeiro a visitar terras nunca antes tocadas por um pontífice, do Iraque à Córsega, primeiro a assinar uma declaração de fraternidade com uma das autoridades islâmicas mais importantes, foi o primeiro Papa a se equipar com um Conselho de Cardeais para governar a Igreja, a distribuir funções de responsabilidade a mulheres e leigos na Cúria Romana, a lançar um Sínodo que envolvia diretamente o Povo de Deus, a abolir o segredo pontifício para casos de abuso sexual e a abolir a pena de morte do Catecismo; primeiro também a liderar a Igreja enquanto no mundo não há uma guerra, mas muitas guerras, pequenas e grandes, travadas em pedaços nos diferentes continentes, uma guerra que é sempre uma derrota, como repetiu nos mais de 300 apelos, mesmo quando a sua voz falhava e que ocuparam todos os últimos pronunciamentos públicos, desde o início  da violência na Ucrânia e no Médio Oriente… Ações que geram novos dinamismos na sociedade e na Igreja’.

Termino com Lígia Silveira, da Agência Ecclesia: ‘Inteireza, proximidade, coragem, ética, oração, simplicidade, gestos, abraços, confiança, amor, sorriso, empatia, justiça, paz, coragem, fé, luminosidade, transparência, diálogo, processo, esperança! Todos! Obrigada!’.

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