LUSOFONIAS – Ousar rezar com os pés

Tony Neves, em Paris

‘Peregrinar é rezar com os pés!’ – ouvi há anos esta frase e não me canso de a repetir. E, sempre que vida me proporciona a oportunidade, lá estou eu a andar até lugares inspiradores, aí onde quase se transpira espiritualidade, o que permite honrar a história, carregar baterias e avançar.

Estas três semanas vividas em terras francesas, permitiram-me a peregrinação a alguns lugares que marcam a história dos Espiritanos, mas também inspiram muitas outras pessoas que ali se dirigem com fé e confiança.

Os Espiritanos em Conselho Geral Alargado (CGA) foram rezar diante da estátua de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Neuilly, ali quase às portas de La Defense, este bairro futurista, no que diz respeito à conceção arquitetónica, na cidade de Paris. Esta estátua é marcante para Paris e para os Espiritanos pois foi diante dela que, no dia de Pentecostes de 1703, Cláudio Poullart des Places deu início à Congregação do Espírito Santo.

De lá rumamos para a Basílica de Nossa Senhora das Vitórias, nas imediações do Museu do Louvre e do Palácio Real. Diante da estátua da Padroeira, o P. Francisco Libermann, 2º fundador dos Espiritanos, lançou a Sociedade do Imaculado Coração de Maria, em 1841.

O grupo teve ainda a alegria de ir até ao 5º Bairro de Paris, à Rue Lhomond, perto do Panteão e da Sorbonne, lá onde, em 1848, a fusão entre as congregações do Espírito Santo e do Coração de Maria ganhou corpo e permitiu o início de uma nova e pujante etapa na história missionária desta grande família religiosa. Ali celebramos a Eucaristia na Igreja onde está sepultado o P. Francisco Libermann e onde há memoriais do P. Cláudio Poullart des Places e dos Padres Tiago Laval e Daniel Brottier, já beatificados. Pudemos subir ao escritório do P. Libermann, contíguo ao quarto onde ele faleceu, hoje lugar de oração e de memória.

Peregrinar nos passos do primeiro fundador, Cláudio Poullart des Places, levou a trintena de participantes deste evento Espiritano a percorrer boa parte do 5º Bairro de Paris e, no domingo, 29 de junho, todo o centro histórico de Rennes, na Bretanha, terra natal. Foi uma viagem de ida e volta em TGV (comboio de alta velocidade) que permitiu celebrar Missa na Igreja de St. Germain, onde Cláudio cresceu na fé e visitar o Parlamento onde ele defendeu a tese de filosofia, a Igreja das Sra dos Milagres onde ele ia rezar com o amigo Luis Monfort, que viria a fundar os Monfortinos (D. Rui Valério, Patriarca de Lisboa, é monfortino). A Paróquia de S. Lourenço, nas periferias complicadas da cidade, foi confiada aos Espiritanos. Ali partilhamos um momento de confraternização com a comunidade. Finalmente, os Espiritanos rezaram as vésperas na Igreja da Santíssima Trindade, que foi a Capela do Colégio dos Jesuítas onde Cláudio estudou. D. Pierre d’Ornellas, Bispo de Rennes, presidiu a este momento de oração e confessou-se marcado pela vida e missão do fundador dos Espiritanos. Terminou com uma palavra de agradecimento: ‘Obrigado por tudo o que os Espiritanos fizeram já por Rennes e por tudo aquilo que ainda irão fazer!’.

Depois de, no Bateau Mouche, re-visitar o centro histórico de Paris, navegando sobre as águas do Sena, o CGA rumou ao Bairro 16 onde, há 101 anos, os Espiritanos aceitaram a aventura de liderar a Obra dos Órfãos Aprendizes de Auteuil. A grande figura da instituição foi o P. Daniel Brottier, hoje beatificado. Ele confiou a Obra a Teresa de Lisieux que ainda não era canonizada, sendo esta a primeira Igreja dedicada a Santa Teresinha. Assim, a visita começou por este espaço de culto, onde teve lugar um momento de oração, diante do túmulo do Beato Brottier. A Obra cresceu de tal maneira que hoje é a maior instituição social de França, pois tem 8 mil colaboradores a acompanhar mais de 40 mil jovens com especiais dificuldades. E ainda apoia milhares de jovens em África.

E, claro, quem visita Paris tem de peregrinar à Notre Dame, a Catedral. A construção iniciou em 1163 e as obras foram concluídas em 1345! É sinal eloquente de fé e resistência, pois a Cidade-Luz sofreu guerras, revoluções e outros momentos dramáticos para a vida da comunidade católica. E nem o incêndio que quase a destruiu, a 15 de abril de 2019, impediu a sua reconstrução de excelência, sendo a reabertura oficial a 7 de dezembro de 2024. Entrar hoje na Notre Dame é fascinar-se com o esplendor, a cultura e a arte expressas no monumento, mas também inspirar-se numa história de Fé à prova de tudo.

Tony Neves, em Paris

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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