Tony Neves, em São Paulo
Os Missionários Espiritanos que trabalham no sul da América Latina reuniram-se em S. Paulo para realizar um Simpósio. O objetivo era claro: avaliar a Missão que por cá se faz e rasgar caminhos de futuro.
Partimos de uma questão essencial: ‘Podemos / devemos ser ‘Discípulos-Missionários’ Felizes, Ousados e Inspirados?’
Ao longo dos dias, apontaram-se algumas pistas de resposta: ‘Sim, todos, ‘inspirados’ também nos Fundadores e grandes figuras da Congregação ao longo de mais de 300 anos’; ‘Sim, com desprendimento, vida comunitária e cumprimento dos votos religiosos’; ‘Sim, fazendo uma clara opção pelos mais pobres, no encalço da melhor tradição da Igreja na América Latina’; ‘Sim, acertando nos alvos preferenciais com a ‘Alegria do Evangelho’, sempre em ‘Ecologia Integral’, como pede o Papa Francisco’; ‘Sim, com compromisso, arriscando tudo pela justiça, paz e direitos humanos, assumindo as dores do mundo de hoje’; ‘Sim, inspirados por atitudes ‘comprometidas’ e não de ‘turistas’, como pediu o Papa aos jovens’; ‘Sim, tendo o Diálogo Ecuménico, Inter Religioso e Inter Cultural como horizonte de Missão’; ‘Sim, olhando a Missão como ‘atração’ e ‘envio’, após ‘contágio’, como nos é pedido para celebrar um Outubro especialmente Missionário’; ‘Sim, com perguntas bem feitas, boas notícias e respostas à letra nesta era do digital’; ‘Sim, aceitando o ‘todos, tudo e sempre em Missão’ que caracteriza a nossa vida em Igreja’; ‘Sim, vivendo a ‘Alegria do Amor’, dando tudo pela Família… com horizontes de eternidade’; ‘Sim, acreditando na força revolucionária da ternura, de olhos e coração postos em Maria, a grande Missionária, sempre pronta a partir’.
É desafiante a Missão de todos os tempos e lugares, mas hoje a América Latina vive horas difíceis, sem soluções de catálogo, com os pobres a serem, como sempre, as maiores vítimas, aqueles a quem roubam a vez, a voz e o futuro.
Os Espiritanos que trabalham por estas paragens vivem a sorte e a má sorte das populações mais indefesas. É grande a riqueza da diversidade: são muitos, de todas as idades e proveniências. São do Brasil, do Paraguai, de Portugal, de Angola, de Cabo Verde, da Irlanda, da Rep. Do Congo, da Nigéria, do Gana, de Espanha, do México, da Polónia, da Alemanha…
Este Simpósio foi um momento de graça, pela fraternidade vivida, pelas partilhas que enriqueceram, pela força que a Oração comum trouxe, pela vontade de continuar a viver e a morrer ao lado dos mais pobres. E, claro, que as questões ecológicas ocuparam lugar de destaque, com o Sínodo da Pan-Amazónia em fase final de preparação.
Um dos textos lidos foi a Oração com que o Papa Francisco concluiu a Via Sacra no Coliseu de Roma: ‘“Senhor Jesus, ajuda-nos a ver na Tua Cruz todas as cruzes do mundo:
a cruz das pessoas que têm fome de pão e amor;
a cruz das pessoas sozinhas e abandonadas até mesmo por seus próprios filhos e parentes;
a cruz das pessoas sedentas de justiça e paz;
a cruz das pessoas que não têm o conforto da fé;
a cruz dos idosos que se arrastam sob o peso dos anos e da solidão;
a cruz dos migrantes que encontram as portas fechadas por causa do medo e dos corações blindados por cálculos políticos;
a cruz dos pequenos, feridos na sua inocência e na sua pureza;
a cruz dos teus filhos que, acreditando em Ti e procurando viver de acordo com Tua palavra, se encontram marginalizados e descartados até mesmo por suas famílias e coetâneos;
a cruz da nossa casa comum que murcha seriamente diante dos nossos olhos egoístas e cegos pela ganância e pelo poder’