LUSOFONIAS – O ‘mais’ e o ‘menos’ de Angola

Tony Neves, em Angola

Tive a alegria de percorrer boa parte deste grande país por causa das questões de ‘justiça, paz, boa governação, ecologia integral, diálogo ecuménico e interReligioso’. Estes foram os temas tratados em Simpósios realizados em Luanda, Ndalatando, Malanje, Benguela, Lobito, Huambo, Chinguar, Lubango, Munhino, Kikolo, Lândana e Cabinda.

Cheguei a Luanda em plena crise dos combustíveis, uma ‘guerra’ que levou à demissão das grandes chefias da Sonangol, a empresa pública que gere os petróleos. O país tinha parado e a reposição dos stocks nas bombas foi lenta. Basta ver que, oito dias depois, eu cheguei à Missão de Kalandula, na Província de Malanje, e não havia sequer gasóleo para o gerador eléctrico, numa área onde a electricidade não chega.

Enchem os olhos de beleza as paisagens de sonho deste país que têm como expoente de atracção as Quedas de Kalandula.

Dá felicidade estar com um povo simples mas muito alegre, que canta e dança, que gosta de fazer festa e acolher bem, fazendo as visitas sentir-se sempre em casa.

É bom viajar, embora muitas estradas não estejam em bom estado. Vemos o povo a percorre-las a pé, transportando sempre muitas coisas à cabeça, indo acompanhados de crianças e animais. Também vemos os carros a desviar constantemente dos cabritos, porcos, galinhas que atravessam as ruas aos ziguezagues, bem como cobras e outros animais. É pitoresco ver as pessoas a utilizar o alcatrão das bermas para pôr a secar a farinha de mandioca…

Impressiona o contraste gritante entre os centros históricos das cidades (regra geral modernos, construções de qualidade, estradas com bom piso, lojas bonitas, limpeza) e as periferias enormes a abarrotar de povo e problemas (barracas como habitação, carreiros de terra e lama entre as casas, ausência de água canalizada e saneamento, muita falha de electricidade – onde há – , pobreza generalizada, violência, álcool…).

Dói continuar a ouvir dizer que muitas aldeias não têm escola, muitos jovens e adultos não conseguem emprego, a saúde não responde pelas doenças, as condições de habitação condigna está longe de ser para todos.

Dá gozo ver que a Igreja em Cabinda começa a reconciliar-se e volta a ser forte, num enclave onde se continuam a escutar gritos pela independência e contra uma governação que priva o povo de combustível e água potável, levando toda a riqueza de uma terra riquíssima em petróleo e madeiras.

A saúde deixa ainda muito a desejar e as doenças crónicas continuam à solta, com surtos frequentes de malária e de cólera. Há ainda muita instabilidade social e insegurança, com numerosos assaltos, muitos deles violentos, que resultam na morte ou ferimentos graves nas vítimas.

É ainda uma constante ouvir da boca dos velhos missionários histórias que já não falam de leões e hipopótamos, mas dos tempos da guerra civil que semeou morte e destruição por onde passou, deixando gravadas memórias dolorosas que o tempo não vai nunca apagar.

Em resumo: Angola está em guerra aberta contra um passado marcado pela violência, injustiça e corrupção, mas transpira hoje esperança e futuro por todos os poros. Para tal basta ver a quantidade de crianças e jovens que se preparam, apesar de tantas dificuldades, para fazer deste país uma terra de paz, justiça e progresso.

 

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