LUSOFONIAS – O Desporto e a Fé abraçados

Tony Neves, em Roma

Abramos portas, unamos mundos e haverá Esperança!’ – disse o Papa Leão XIV na Basílica de S. Pedro, na Audiência feita por ocasião do Jubileu do Desporto, naquela manhã de 14 de junho. Horas mais tarde, no Auditório Agostiniano, pudemos escutar Thomas Bach, Presidente do Comité Olímpico Internacional, a dizer: ‘Nos Jogos Olímpicos todos são iguais!’.

Mas voltemos à Basílica e ao encontro com o Papa Leão. Ao falar de um mundo sem fronteiras, como aquele que o desporto tenta construir, o Papa usou o exemplo do cristianismo. Disse: ‘O Evangelho foi trazido de fora para o continente europeu. E ainda hoje as comunidades migrantes são presença que reavivam a fé nos países que as acolhem. O Evangelho veio de fora!’. Apresentando o exemplo de Jesus, lembrou que Ele ‘não é um muro que separa, mas uma porta que nos une’. Usou como inspiração a figura de um grande santo missionário: ‘Como Ireneu em Lião, no século II, em cada uma das nossas cidades, voltemos a construir pontes onde hoje há muros!’.

Os cerca de 400 participantes na Conferência Internacional sobre Desporto, organizada pelo Dicastério para a Cultura e Educação, liderado pelo Cardeal Tolentino Mendonça, tomaram a direção do Auditório Agostiniano,  saindo por uma porta dianteira da Basílica e passando junto à Casa de S. Marta, onde o Papa vive. Após uma pausa para café e bolos, o Cardeal Tolentino saudou os presentes, feliz por ser possível ali pôr em prática um diálogo profundo entre a fé e o desporto. Há sempre espaço para uma reflexão poliédrica, privilegiando a arte da escuta comum. Na opinião do Cardeal madeirense, o desporto  deve ser uma escola relevante de valores e torna-se um lugar de esperança, combatendo a cultura da exclusão. Recordou que, pela primeira vez na história, o Giro de Itália em bicicleta passou pelo Vaticano e os ciclistas foram recebidos e saudados pelo Papa, a 1 de junho. Leão XIV também recebeu a equipa do Nápoles, vencedora do campeonato italiano de futebol. Nesse dia, O Papa lembrou que ‘quem vence o campeonato é a equipa. O valor está no conjunto, na beleza da comunidade. Quando vence o grupo, a vitória é de todos e para todos’. O cardeal Tolentino concluiu dizendo que ‘mesmo as vitórias individuais têm por detrás do atleta toda uma grande equipa’.

Thomas Bach, Presidente do Comité Olímpico Internacional defendeu que ‘o desporto é um grande lugar de vivência de valores humanos profundos’. O ideal olímpico, ‘mais rápido, mais alto, mais forte!’ tem tudo a ver com os valores da Fé. Referiu, finalmente, os programas de solidariedade olímpica, com a destinação de vários milhões de dólares ‘para promover a solidariedade e a paz e para tentar colmatar o fosso que está a criar tanta desigualdade no mundo’.

Esta Conferência teve um título provocador: ‘o impulso da Esperança: histórias além do pódio’. Dos nove convidados para participar em dois painéis, marcaram-me particularmente três.

Começo por Sérgio Conceição, homem assumidamente católico praticante, que agradece a Deus cada dia que Ele dá e pede força pelos momentos em que fica mais abalado. Recordou a luta que está a ser a sua vida, desde que perdeu o pai aos 16 anos e a mãe aos 19! Disse tentar transmitir à família, aos jogadores e a quantos com ele se cruzam, os valores cristãos em que crê profundamente. Acredita na força da esperança e nos valores que ajudam a construir um mundo melhor.

Letsile Tebogo é um atleta do Botswana, e enquanto sub-20, duas vezes campeão do mundo nos 100 m, de que detém ainda o record mundial. Foi medalha de ouro dos 200 m, nos Jogos Olímpicos de Paris em 2024. O seu testemunho, várias vezes aplaudido, mostrou a simplicidade da sua vida e a profundidade da sua Fé em Cristo.

Marcante e emocionante foi a partilha feliz de Amelio Grueso. Nascido na Colômbia, perdeu a locomoção num acidente de carro, aos 20 anos. Conseguiu vir para Itália onde obteve o estatuto de refugiado (2023) e pôde treinar com regularidade. Alcançou uma medalha nos Jogos Paralímpicos e, com um sorriso nos lábios, confidenciou: ‘É preciso perseverança para ganhar. Sem esperança e sem Deus eu não teria conseguido fazer nada!’.

Tony Neves, em Roma

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

 

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